terça-feira, 13 de setembro de 2016

Concordar é preciso

      Um de nossos alunos escreveu numa redação: “A consciência dos diretos e dos deveres, presente nos países desenvolvidos, caracterizam a verdadeira cidadania.” Há nessa passagem uma falha de concordância: o núcleo do sujeito (consciência) está no singular, e o verbo se encontra no plural (já a flexão do adjetivo o estudante acertou: escreveu “presente”, em vez de “presentes”).
         Quando pedi ao aluno que corrigisse o erro, dele ouvi que eu estava sendo muito severo. Motivo: na última versão do Enem, problemas de concordância não tinham impedido que alguns candidatos obtivessem a nota máxima...
       Expliquei-lhe que a orientação agora é outra. As bancas vão ficar mais atentas ao que determina a Competência 1, que trata da norma culta. E sobretudo vão levar em conta o que está no guia “A redação no Enem 2012”, publicado pelo Inep para orientar os participantes: “Desvios mais graves, como a ausência de concordância verbal, excluem o aluno da pontuação mais alta.” (p. 13). Há desvios graves “quando o sujeito aparece depois do verbo ou muito distante dele (situação em que mais ou menos se encaixa a frase do aluno).
       Não fazer a concordância do verbo quando o sujeito aparece depois é uma tendência do português falado que também se verifica nos textos escritos. Exemplos: “Aconteceu vários acidentes antes”, “Começou os festejos juninos”, “Existia vários tipos de moléstias” etc. A norma culta determina que se escreva “aconteceram”, “começaram”, “existiam”.
          Vale a pena observar, a propósito, o que ocorre com o verbo “haver” quando tem o sentido de “existir”. O fato de considerá-lo intransitivo e pessoal, como os verbos acima, leva o falante ou escrevente a fazê-lo “concordar” com o termo seguinte (gramaticalmente, um objeto direto). Por exemplo: “Haviam vários tipos de moléculas”. Esse tipo de erro aparece numa das redações que receberam a nota máxima no Enem 2012; o aluno escreveu: “É fundamental que hajam debates”.
      Deve-se evitar a flexão de “haver” nesses casos. O que a justifica não é a observância a um preceito gramatical, mas a hipercorreção, ou seja, a tendência a corrigir o que se supõe errado.


Um comentário:

  1. Biblioteca Comunitária Antonio Geraldo14 de setembro de 2016 às 10:56

    Importante para quem vai fazer Enem por é isso importante a leitura de livros desde pequeno, pois na hora de lê vemos muitas que falamos e escrevemos errado, sim devemos também usa a tecnologia do computador mas como ele faz uma correção automática não notamos o erro.

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