sábado, 3 de setembro de 2016

Humor em sala de aula

          O uso de textos humorísticos é um bom meio de ensinar a língua. Ao contrário do cômico, o humor está na linguagem; resulta de desvios em determinados padrões semânticos, estruturais e de pensamento. Seu objetivo é revelar o ridículo ou o absurdo que há em pessoas, fatos, situações. Vejamos alguns recursos capazes de promover o efeito humorístico (as frases foram retiradas de chviana.blogspot.com.br).  
         Um deles é a paronomásia, ou seja, o emprego de palavras que se assemelham a outras quanto ao significante. Por exemplo: “A política é um jogo de faz de contra.” A troca de “conta” por “contra” não apenas sugere que a política é um engodo, uma simulação. Passa também a ideia de que os agentes do jogo político apenas fingem se opor uns aos outros; o adversário de hoje poderá ser o correligionário de amanhã.
       Outro recurso é a paródia, como nesta passagem: “Em briga de marido e mulher, vez por outra um dos dois mete a faca.” A conhecida sentença que nos instrui a não interferir nos conflitos conjugais é trocada por outra em que se aponta, bem realisticamente, uma possível (e nefasta) consequência desses conflitos.
         Paronomásia e paródia podem vir juntas. Exemplo: “Os opostos se atracam.” O objetivo da sentença original (“Os opostos se atraem”) é afirmar a conciliação entre elementos antagônicos. Na versão paródica prevalece a antítese, ou seja, o reconhecimento de que é mesmo impossível harmonizar os opostos. Em “A cerveja que desce... arredonda” também se associam parônimos e paródia (do comercial da Skol), já que se destaca uma consequência indesejável em quem bebe muita cerveja: o aumento do diâmetro abdominal.  
        Outro recurso capaz de levar ao humor é a inversão de palavras.  Por exemplo: “O maior desafio dos casados é impedir que a fase do só nos dois termine em nós dois sós.” A inversão do clichê que celebra a privacidade do casal alerta para uma das armadilhas do casamento, que é levar à solidão a dois. Além da inversão, concorre para o efeito pretendido a mudança de classe morfológica (do advérbio “só” para o adjetivo “sós”).   
        Na área das figuras de pensamento, um conhecido recurso é a ironia. Ela consiste, como se sabe, em dizer o contrário do que se pensa: “Não falem dos médicos. Quando eles nos matam, não sabem o que estão fazendo.” A ignorância dos médicos é apresentada como argumento para que não o critiquem, quando na verdade ocorre o contrário: por lidarem com a vida humana, é imperdoável nesses profissionais o desconhecimento da profissão.
       Também a ambiguidade entre o sentido metafórico e o literal pode ter efeito humorístico. Expressões como “viver de nariz empinado” ou “empurrar com a barriga”, que indicam respectivamente arrogância e desleixo, já não chamam a atenção. Podem no entanto ser “percebidas” em frases do tipo: “Depois que fez plástica, vive de nariz empinado” e “Arranjou uma gravidez indesejada. Agora vai ter que empurrar com a barriga.” A associação entre plástica e nariz , bem como entre gravidez e barriga, sugere o emprego literal daquelas expressões, o que soa engraçado.

                            

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