O uso de textos humorísticos é um bom meio de
ensinar a língua. Ao contrário do cômico, o humor está na linguagem; resulta de
desvios em determinados padrões semânticos, estruturais e de pensamento. Seu
objetivo é revelar o ridículo ou o absurdo que há em pessoas, fatos, situações.
Vejamos alguns recursos capazes de promover o efeito humorístico (as frases
foram retiradas de chviana.blogspot.com.br).
Um deles é a paronomásia, ou seja, o emprego de palavras que se assemelham a
outras quanto ao significante. Por exemplo: “A política é um jogo de faz de contra.” A troca de “conta” por “contra”
não apenas sugere que a política é um engodo, uma simulação. Passa também a ideia
de que os agentes do jogo político apenas fingem se opor uns aos outros; o adversário
de hoje poderá ser o correligionário de amanhã.
Outro recurso é a paródia, como nesta passagem: “Em briga de marido e mulher, vez por outra um dos dois mete a faca.”
A conhecida sentença que nos instrui a não interferir nos conflitos conjugais é
trocada por outra em que se aponta, bem realisticamente, uma possível (e nefasta)
consequência desses conflitos.
Paronomásia e paródia podem vir juntas.
Exemplo: “Os opostos se atracam.” O objetivo
da sentença original (“Os opostos se atraem”) é afirmar a conciliação entre
elementos antagônicos. Na versão paródica prevalece a antítese, ou seja, o reconhecimento
de que é mesmo impossível harmonizar os opostos. Em “A
cerveja que desce... arredonda”
também se associam parônimos e paródia (do comercial da Skol), já que se
destaca uma consequência indesejável em quem bebe muita cerveja: o aumento do diâmetro
abdominal.
Outro recurso capaz de levar ao humor é a
inversão
de palavras. Por exemplo: “O maior desafio dos casados é impedir
que a fase do só nos dois termine em
nós dois sós.” A inversão do clichê
que celebra a privacidade do casal alerta para uma das armadilhas do casamento,
que é levar à solidão a dois. Além da inversão, concorre para o efeito
pretendido a mudança de classe morfológica (do advérbio “só” para o adjetivo “sós”).
Na área das figuras de pensamento, um conhecido recurso é a ironia. Ela consiste, como se sabe, em
dizer o contrário do que se pensa: “Não falem dos médicos. Quando eles nos
matam, não sabem o que estão fazendo.” A ignorância dos médicos é apresentada
como argumento para que não o critiquem, quando na verdade ocorre o contrário:
por lidarem com a vida humana, é imperdoável nesses profissionais o
desconhecimento da profissão.
Também a ambiguidade
entre o sentido metafórico e o literal pode ter efeito humorístico. Expressões
como “viver de nariz empinado” ou “empurrar com a barriga”, que indicam respectivamente
arrogância e desleixo, já não chamam a atenção. Podem no entanto ser “percebidas”
em frases do tipo: “Depois que fez plástica, vive de nariz empinado” e “Arranjou
uma gravidez indesejada. Agora vai ter que empurrar com a barriga.” A associação
entre plástica e nariz , bem como entre gravidez e barriga, sugere o emprego
literal daquelas expressões, o que soa engraçado.
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