O
Enem não obriga o candidato a intitular a redação, mas é recomendável que ele o
faça. Uma redação com título sugere que o autor tem uma visão global do texto.
Sendo o resumo dos resumos, o título é uma generalização que dentro do possível
unifica as informações. Indica um maior domínio sobre o que foi expresso. No
esforço de intitular, o candidato rearticula mentalmente as partes e faz um retrospecto
que pode, inclusive, revelar falhas na unidade.
Uma
das justificativas para que não se intitule a dissertação argumentativa é que ela
é um gênero escolar. Ao contrário de outros gêneros, dirige-se a um examinador
(ou examinadores) que está mais interessado em avaliar a consistência dos argumentos
e a forma como se articulam para conduzir à conclusão. O fato de ser produzido
na escola, contudo, não faz com que a dissertação argumentativa seja diferente
de outros textos de opinião (artigos, editoriais, cartas argumentativas). Nela
existe uma personalidade autoral, que se evidencia logo a partir do momento em
que escolhe uma denominação para “rotular” o que escreveu.
Outra
justificativa para não intitular é que o título não representa um componente estrutural.
Ele não se insere na estrutura, é certo, mas constitui importante elemento
arquitetônico. Quando produzido com inteligência e criatividade, valoriza a
redação e “fisga” o leitor. Ao se deparar com o título, o examinador já tem uma
primeira noção sobre se o candidato compreendeu o que estava sendo pedido. Títulos
genéricos remetem mais ao assunto do que ao tema. Quando não se relacionam com
o que está no corpo do texto, mostram que o autor não sabe sobre o que
escreveu.
O
título pode, como dissemos, consistir num resumo ou destacar algum aspecto que
o autor ache importante. Pode sugerir uma atitude , uma reação ao tema
enfocado. Num gênero marcado pela objetividade, como é a dissertação argumentativa,
ele às vezes aparece sob a forma de imagens, ironias, jogos de palavras, revelando
a disposição pessoal. Um de meus alunos deu a um texto sobre a violência urbana
o título de Cidades reféns. Outro
intitulou uma redação sobre o bullying de Bulindo
com os outros. A escolha foi espirituosa e pertinente, sobretudo quando se
consideram alguns dos sentidos do verbo “bulir” (caçoar, zombar, molestar
etc.).
Como tudo que se liga à produção de
textos, dar bons títulos depende de exercício. Algumas dicas podem ajudar: 1)
leia e releia o texto com atenção; 2) observe atentamente os tópicos dos
parágrafos, nos quais se concentram as ideias principais; 3) faça um resumo
mental da conclusão, atento às sugestões nela contidas.
Quanto
ao formato, o título aparece geralmente como frase nominal (Antigas mazelas do Brasil; Marcas da violência urbana); mas também
pode aparecer como um período (É preciso
preservar a vida). Em qualquer dos casos
não é necessário
pontuá-lo, a não ser
que ele
constitua uma pergunta retórica
(Miséria é mesmo
destino ?). É recomendável evitar títulos com pontos de
exclamação e reticências (Um drama
nacional !; Uma difícil espera ...).
Alguns estudantes
usam estes sinais à procura de ênfase ou sutileza , mas
terminam comprometendo a objetividade.
Com base na produção de alunos, segue
uma lista do que se deve ainda evitar
para que o título seja direto e objetivo:
--
afirmações vagas ( Algo precisa mudar );
--
gírias e lugares-comuns (Ou vai ou
racha ; O esporte nacional
com tudo
em cima );
--
expressões ambíguas (O temor
da juventude ) - Não
se sabe se é o temor que a juventude sente, ou o que ela inspira;
--
sinais matemáticos e semelhantes (Tecnologia + ecologia = desenvolvimento ; Evolução x Educação );
--
uso de ponto e vírgula (Família ; a base
de nossos valores )
- Prefira travessão ou mesmo vírgula (Família – a base
de nossos valores ;
Família, a base de nossos valores);
--
excesso de palavras (A questão é: progredir sem degradar ) – Bastaria: Progredir sem degradar ;
--
truncamento de sintagmas ou orações (Natureza : ameaçada por
um erro capital ) - Melhor
seria: Uma grande
ameaça à natureza .
O
título é um letreiro, um chamariz. Vale a pena investir nele.
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