sábado, 28 de setembro de 2019

Sobre a gramática no texto

É impressionante o descaso com que as escolas, de modo geral, vêm tratando o ensino da gramática. Constato isso nas redações que corrijo. A maioria dos alunos não consegue identificar o sujeito de uma oração porque não sabe colocá-la na ordem direta. Tal desconhecimento gera erros de concordância, que interferem na coesão.
A falta de embasamento sintático, associada a falhas semânticas, produz enunciados ilógicos que também comprometem a coerência. Os alunos precisam aprender a pensar, estruturar com clareza um enunciado, expandir e refinar o vocabulário -- e não apenas reconhecer o registro conveniente a determinadas situações sociais. Isso se aprende no cotidiano. Na escola ele deve aprender a ler bem, exercitar o raciocínio, assimilar o bom exemplo de grandes autores.
             É fácil corrigir alguém que, numa redação, usa “grana” em vez de “verba”; diz-se que “grana” é coloquial e não cabe num texto como o dissertativo-argumentativo. O que podemos fazer, no entanto, quando nos deparamos com construções como as que seguem? “Se as pessoas tem o direito de ir e vir, ou seja, a liberdade de locomoção e expressar a sua opinião. Portanto, o normal seria haver uma harmonia entre essas diretrizes”; “Com a falta de ética na governação do país terá como consequência a corrupção, atualmente o Brasil está ocupando a 96º país quando o assunto é combate a corrupção.”; “Um dos principais rios que cortam o Estado de São Paulo, o Tietê, considerado um rio morto em grande parte de sua extensão, é resultado desse descaso.” São de alunos do terceiro ano. Parece-me que falar em inadequação a propósito delas é muito.
           Falar em “inadequação” em vez de “erro” me parece pouco para convencer os alunos do ensino médio a escrever com o devido respeito à gramática. Entendo que o que se chama de “erro” é antes um cruzamento de registros (o coloquial descuidado superpondo-se ao culto, por exemplo). Mas é preciso ensinar a norma culta em algum lugar, e esse lugar é a escola.
          Como diz José Saramago, “cabe à escola ensinar o aluno a escrever corretamente e também explicar por que as regras são assim, e não de outra maneira. Mas escola não é o lugar onde se subverte e revoluciona a estrutura da língua. Essa tarefa pertence aos escritores, se estes consideram que têm motivos para o fazer.”