É impressionante o descaso com que as escolas, de modo
geral, vêm tratando o ensino da gramática. Constato isso nas redações que
corrijo. A maioria dos alunos não consegue identificar o sujeito de uma oração
porque não sabe colocá-la na ordem direta. Tal desconhecimento gera erros de
concordância, que interferem na coesão.
A falta de embasamento sintático, associada a falhas
semânticas, produz enunciados ilógicos que também comprometem a coerência. Os
alunos precisam aprender a pensar, estruturar com clareza um enunciado, expandir
e refinar o vocabulário -- e não apenas reconhecer o registro conveniente a
determinadas situações sociais. Isso se aprende no cotidiano. Na escola ele
deve aprender a ler bem, exercitar o raciocínio, assimilar o bom exemplo de
grandes autores.
É fácil corrigir alguém que, numa
redação, usa “grana” em vez de “verba”; diz-se que “grana” é coloquial e não
cabe num texto como o dissertativo-argumentativo. O que podemos fazer, no
entanto, quando nos deparamos com construções como as que seguem? “Se as
pessoas tem o direito de ir e vir, ou seja, a liberdade de locomoção e
expressar a sua opinião. Portanto, o normal seria haver uma harmonia entre
essas diretrizes”; “Com a falta de ética na governação do país terá como
consequência a corrupção, atualmente o Brasil está ocupando a 96º país quando o
assunto é combate a corrupção.”; “Um dos principais rios que cortam o Estado de
São Paulo, o Tietê, considerado um rio morto em grande parte de sua extensão, é
resultado desse descaso.” São de alunos do terceiro ano. Parece-me que falar em
inadequação a propósito delas é muito.
Falar em “inadequação” em vez de
“erro” me parece pouco para convencer os alunos do ensino médio a escrever com
o devido respeito à gramática. Entendo que o que se chama de “erro” é antes um
cruzamento de registros (o coloquial descuidado superpondo-se ao culto, por
exemplo). Mas é preciso ensinar a norma culta em algum lugar, e esse lugar é a
escola.
Como diz José Saramago, “cabe à escola ensinar o aluno a escrever corretamente e também explicar por que as regras são assim, e não de outra maneira. Mas escola não é o lugar onde se subverte e revoluciona a estrutura da língua. Essa tarefa pertence aos escritores, se estes consideram que têm motivos para o fazer.”
Como diz José Saramago, “cabe à escola ensinar o aluno a escrever corretamente e também explicar por que as regras são assim, e não de outra maneira. Mas escola não é o lugar onde se subverte e revoluciona a estrutura da língua. Essa tarefa pertence aos escritores, se estes consideram que têm motivos para o fazer.”