Poucos recursos são tão engenhosos
na língua quanto o diminutivo. Ele não é apenas uma medida de tamanho ou de
valor; é sobretudo uma forma de nos colocarmos no mundo. Uma estratégia de
convivência, um meio de nos relacionarmos com as pessoas. Sem o diminutivo
teríamos que enfrentar tudo em grau normal, quer dizer, na crua dimensão da
realidade.
O diminutivo é tão importante que
merecia uma ode (está bem... uma “odezinha”). Ele é por excelência um recurso
de abrandamento e nos torna mais simpáticos. O burocrata não pode ou não quer
atender alguém e diz, para encorajá-lo a se manter sentado: “Um momentinho.”
Esse “momentinho”, claro, pode se desdobrar em horas. Mas o diminutivo vai ecoar
no tempo de espera como um pedido de desculpas. Não dá para ter raiva de quem é
delicado conosco.
Comumente o diminutivo traduz
afetividade. Dele abusam os namorados quando se dirigem aos seus “queridinhos”
e “queridinhas”. E as crianças se derretem diante dos “bichinhos” de estimação.
Vinicius, que o Brasil ama, ficou conhecido como “o Poetinha” (por sinal, ele
deve agora estar tomando um “uisquinho” em companhia de algum anjo).
Outro efeito do diminutivo, e que
está registrado nas gramáticas e nos manuais de estilo, é o de depreciação. Se
um filme não presta, diz-se que é um “filmezinho” – mesmo que ele não dure aquém do tempo normal. A metragem mais longa, por sinal, não o transformaria num “filmão”.
Na maior parte das vezes, o
diminutivo é apenas o invólucro de um conteúdo ameaçador. Se a sua mulher diz
que está louca por um “vestidinho” que viu em tal vitrine, prepare-se para a má
notícia: ele não custa menos de R$ 1.000,00! E quando o dentista diz que não
vai doer, é só uma “picadinha”? Por acreditar nisso quando era pequeno, acabei
traumatizado. Hoje não suporto dentistas, sobretudo os que nos enganam com
diminutivos. São uns... “dentistinhas”.
O diminutivo pode ser ainda um
recurso de falsa modéstia. O escritor fala do seu “livrinho” diante dos
colegas, mas no fundo o considera uma obra-prima. Talvez, quem sabe, lhe renda
um “premiozinho” (e por que não o Nobel?). O ricaço compra um modelo
sofisticado de automóvel e, para nos humilhar, chama-o de “carrinho”.
Também se usa o diminutivo como
um recurso de intensificação ou, dizendo melhor, de esmiuçamento. O filho
aprontou na escola e quando chega em casa ouve da mãe, que está uma fera:
“Agora me conte o que houve. Tudinho”. “Tudinho” é tudo mesmo, sem lacunas nem
disfarces. E o guri, se for inteligente, detalhará o que aconteceu para evitar
umas “palmadinhas” (ou mesmo umas palmadas, pois ainda há pais e mães que não
têm medo de ser denunciados).
O diminutivo se popularizou numa
época em que é cada vez mais difícil ter um vidão – ou mesmo uma vida. São
tantas as restrições e os perigos, que à maioria de nós cabe mesmo uma
“vidinha”. E para não sucumbirmos, a saída é dar um “jeitinho” em tudo. O
“jeitinho”, que é uma marca do caráter brasileiro, traduz o reconhecimento de
que nada se resolve de fato mas nem por isso se deve perder a esperança. Há
sempre uma “luzinha” no fim do túnel. Se não quer brilhar para nós, sempre é
possível a gente dar uma “piscadinha” para ela.
Mas vejo que está na hora de terminar
esta “croniquinha”, para que o leitor não perca a paciência e acabe me
endereçando um... palavrão!