sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Pressupostos e subentendidos



      Boa parte do que o texto significa não se mostra explicitamente. Quando escrevemos deixamos implícitas algumas informações, e cabe ao leitor completar as lacunas.
         Os implícitos são basicamente de dois tipos: pressupostos e subentendidos. Os pressupostos estão inscritos na língua; não há como fugir ao sentido que eles determinam. Já os subentendidos dependem de interpretação.  
        Se alguém diz a uma visita: “Finalmente você apareceu”, pressupõe-se que o interlocutor há tempo não dava as caras; o advérbio que introduz a oração indica isso. Caso ele acrescentasse uma observação do tipo: “Deixou o orgulho de lado”, estaria formulando um subentendido. A ausência do outro teria sido interpretada como soberba. O subentendido sempre envolve um julgamento, um juízo de valor, e por vezes leva à distorção da verdade.
         Um exemplo disso ocorre nesta passagem de “O pagador de promessas”, a conhecida peça de Dias Gomes:
PADRE Que pretende com essa gritaria? Desrespeitar esta casa, que é a casa de Deus?
ZÉ Não, Padre, lembrar somente que ainda estou aqui com a minha cruz.
PADRE Estou vendo. E essa insistência na heresia mostra o quanto está afastado da igreja.
        Zé do Burro pretende entrar na igrreja carregando uma cruz para agadecer a Santa Bárbara o restabelecimento do seu burro Nicolau. Ele é um homem simples, ingênuo, e jamais lhe passaria pela cabeça contestar a ortodoxia cristã. No entanto o padre Olavo interpreta o fato de ele conduzir a cruz como um sinal de heresia. Subentende na resposta do interiorano a intenção de ser um novo Cristo.  
         Nos subentendidos refletem-se valores e preconceitos da sociedade. Levei para a classe o seguinte diálogo:
     – Você pretende se casar?
     – Eu tenho juízo!
       Depois perguntei à turma o que se subentende da resposta.  Praticamente a totalidade dos alunos afirmou que ela dava entender que só “um doido” se casa. O curioso é que o diálogo também permite que se entenda o oposto. Pode-se interpretar a resposta como uma defesa do casamento, que seria a opção do indivíduo prudente e racional. Por que ninguém considerou esse lado?
        Nesta outra passagem a interpretação ficou mais fácil, pois o que se subentende parte de um dos envolvidos no diálogo:
        – Aquele ali teve sucesso na política.
        – Já sei. Nunca foi pego.
          Está implícita a ideia de que os políticos transgridem a lei.
        Um dos maiores riscos na redação é querer dar aos subentendidos o rigor dos pressupostos. O que se interpreta não pode ser tomado como verdade absoluta.  Num texto sobre os novos papéis da mulher na sociedade, um aluno escreveu: “O trabalho da mulher fora de casa prejudica a educação dos filhos, pois ninguém substitui a mãe nessa tarefa.”
       Subentende-se que tal prejuízo possa ocorrer, mas há mulheres que conseguem conciliar as duas funções. O aluno deveria ao menos ter apresentado o seu julgamento como possibilidade. Por não fazer isso, incidiu numa discutível generalização.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Sem querer, querendo


                (influências semânticas na escolha dos parônimos)
 
                Um dos problemas graves em redações de vestibulandos é a falta de rigor no emprego das palavras. As falhas por inexatidão de sentido prejudicam a coerência e, nos casos em que constituem repetições indevidas, comprometem a progressão do texto. Em razão delas geram-se enunciados contraditórios e por vezes ininteligíveis. A impressão que se tem é a de que o aluno ouviu o galo cantar, mas não soube onde, tal a distância entre a palavra escolhida e a ideia que ele queria transmitir.
         Um dos fatores que concorrem para isso é a escolha errada entre dois parônimos. Parônimas, como se sabe, são palavras que se assemelham pela pronúncia. As gramáticas citam exemplos como os de “infligir e infringir”, “intemerato e intimorato”, “eminente e iminente”; nesses pares, a semelhança fônica faz com que não raro se troque um dos vocábulos pelo outro.
         A análise das redações, quanto a esse aspecto, nos leva a uma interessante constatação: os parônimos tanto induzem ao erro, quanto aparecem como alternativas para suprir o vazio de um pensamento que não encontra a sua forma. O que o aluno escreveria, por exemplo, se não lhe ocorresse usar “consistência” em lugar de “constância” numa frase como “É preciso evitar a consistência com que isso ocorre”?
            Dificilmente optaria por um termo mais preciso, como “frequência”; o mais provável é que não formulasse o juízo que formulou. A existência do parônimo se constitui num recurso para que ele tenha dito o que disse, abeirando-se muitas vezes do sentido adequado. A semelhança sonora entre os vocábulos demonstra que ele tinha uma vaga ideia do que “constância” significa -- tanto que pensou estar usando essa palavra quando escolheu a outra.
             O uso inadequado dos parônimos decorre basicamente de uma confusão formal, mas isso não significa que o fator semântico não concorra para a troca dos termos. Nesse ponto ocorre o oposto do que acontece nos tradicionais equívocos apontados pela gramática.
            Quem troca “infligir” por “infringir” não o faz sugestionado por um vínculo de sentido. Pelo contrário, não há nenhuma relação entre essas palavras. Já entre “constância” e “consistência” parece haver um parentesco metonímico; quem é constante, afinal de contas, demonstra alguma consistência interior.

         O mesmo ocorre nas passagens abaixo, retiradas também de redações de nossos alunos:
          “Estas indagações são feitas pela sociedade, que muitas vezes se contradiz ao avanço da medicina”; “São pais antiquários, que prendem demais os filhos”; “A força da moda encucou nos consumidores esse padrão por ela estabelecido”; Ninguém é capaz de transformar algo tão nobre e verdadeiro em algo maquinário”.
As trocas às vezes têm efeito paradoxal ou cômico.  Ao confundir “constância” com “consistência”, no contexto da frase citada, o aluno atribui valor a algo que pretende evitar. O que é consistente não deve em princípio ser rejeitado, ou seja, a escolha da palavra indevida gerou uma falha de coerência.
            Não é preciso ser “antiquário” (“vender ou colecionar antiguidades”) para prender muito os filhos; geralmente quem faz isso são os pais caretas, antiquados, que se recusam a acompanhar a evolução dos tempos. Mas não há dúvida de que existe um elo semântico entre as duas palavras; os antiquários lidam com objetos antigos, e para o jovem “antiguidade” e “caretice” muitas vezes se equivalem. 
             É frequente a troca de “contradiz” por “contrapõe”, e do verbo “inculcar” por “encucar” (esse último vocábulo, por sinal, está muito próximo do universo dos adolescentes). O curioso, nessa troca vocabular, é que é a ideia de “meter na cuca” (cabeça) não está longe do sentido pretendido pelo aluno, que se refere à “lavagem cerebral” promovida pela moda. Já o termo “maquinário”, transformado em adjetivo, constitui uma extensão indevida de “maquinal.”
            É preciso distinguir os exemplos acima daqueles em que o mau emprego das palavras não se deve à semelhança sonora. Nesses casos o aluno erra mesmo por desconhecimento do sentido. Eis alguns exemplos:
(a) “Depois de tal episódio, pude contemplar o quanto o álcool é prejudicial”; (b) “A adolescência é uma fase da vida cheia de descobertas e libertações, mas também compactuada com sérios temores”; (c) “...devemos sempre avaliar o que está em nossa volta antes de tomar nossas próprias conclusões”; (d) “A geração e valorização do emprego local seria um bom começo para melhorar essa necessidade”; (e) “O contato interpessoal nos faz adquirir tolerância em relação ao próximo e suas vicissitudes”.
Haveria adequação se em vez de “contemplar” o aluno tivesse escrito  perceber”, palavra mais ajustada ao contexto. A adolescência é comprometida (e não “compactuada”) por sérios temores. E desde quando é possível “tomar conclusões”? Tirar conclusões é o certo. Uma necessidade não se melhora -- se atende (atenua ou desfaz). “Vicissitudes” aplica-se a situações e não a pessoas; a estas, o termo que cabe é “idiossincrasias”.
           Os erros decorrentes de parônimos mal empregados, como se vê, são diferentes dos que aparecem nas passagens acima. Indicam não propriamente ignorância, mas insuficiência na leitura e pouca habilidade para discernir entre conteúdos semânticos de alguma forma aparentados. A percepção de um elo entre a forma escolhida e a que o aluno queria expressar mostra que ele fica a meio caminho entre o acerto e o erro, e muitas vezes tem uma vaga noção do que pretendia dizer.
         Um dos desafios para quem ensina redação é levá-lo a perceber as razões dessa troca, explicitando o vínculo entre as duas formas em jogo. A partir daí será possível melhorar seu desempenho como leitor e produtor de textos.
                                                                
Chico Viana é doutor em Teoria da Literatura pela UFRJ e professor de redação no curso que leva o seu nome.    (www.chicoviana.com -     viacor@uol.com.br)
(Publicado no n. 23 da revista Língua Portuguesa - Conhecimento prático, da Escala Educacional)

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Muito tititi pra pouco pajubá


Uma questão do Enem tem sido muito criticada por fazer menção ao pajubá, dialeto secreto usado por gays e travestis. No comando, a banca apresenta uma frase nesse dialeto e dá outras informações, como as de que ele é usado em situações informais e já constitui objeto de um dicionário.
Na questão não se especifica o sentido de nenhuma palavra do dialeto, pois o propósito não é explicá-lo mas sim apresentá-lo como um conjunto específico de variantes ligadas a determinado grupo. O grupo enfocado poderia ser qualquer outro – jovens, marinheiros, marginais, enfim, qualquer um que tenha a sua linguagem cifrada. Diante disso, o aluno poderia responder a questão sem conhecer nenhum termo vinculado ao universo dos gays ou dos travestis.
Por sinal, quem tem vulgarizado esses termos são os críticos, que estão despertando a curiosidade das pessoas justamente para aquilo que em tese desejam proibir. Foi através de um vídeo furibundo contra a prova, por exemplo, que muita gente ficou sabendo o que significa “acué” e “picumã”.
A garotada deveria passar ao largo desses termos e se deter no conceito linguístico de dialeto. Se algum reparo se deve fazer, é à ênfase que o Enem tem dado a classificações e tipologias (algumas polêmicas) em detrimento da avaliação dos recursos linguísticos que articulam os componentes textuais.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

O tema de redação do Enem 2018


A Internet era uma das apostas dos professores para a redação do Enem 2018. A dúvida estava em qual aspecto da WEB a banca poderia enfocar; em 2011, por exemplo, ela abordou o desafio de manter a privacidade num universo em que são tênues os limites entre o público e o privado. Desta vez, solicitou que os candidatos se posicionassem sobre a manipulação do comportamento dos usuários pelo controle dos dados que circulam na Rede.  
O tema não poderia ser mais atual e oportuno. A imprensa tem noticiado com bastante frequência ações que atestam essa manipulação. Seja pela invasão de hackers, seja pela seleção de algoritmos que privilegiam ideologias ou produtos, grandes conglomerados do setor de informática buscam selecionar o que deve e o que não deve chegar aos usuários. Essa atitude, que é um misto de censura e publicidade enganosa, tem colocado em xeque a legitimidade da Web como instrumento da globalização. Ao mesmo tempo acena com a possibilidade de que, se esse processo não for detido, os internautas acabem se transformando em bonecos sem consciência nem vontade.
Como sugestões para o desenvolvimento do tema, a banca apresentava quatro textos motivadores – sendo o terceiro um quadro demonstrativo do largo uso da internet, por jovens e adultos, para funções as mais diversas. Nos três outros, expõem-se diferentes aspectos da manipulação. O primeiro descreve o mecanismo pelo qual se selecionam os produtos enviados a usuários de um serviço de música digital. Um algoritmo fundado em preferências iniciais praticamente determina as escolhas futuras, de modo que se tira do cliente qualquer possibilidade de opção. Ele pensa que é livre, mas seu gosto está determinado.
No texto 2 repete-se o alerta, que se dirige agora aos usuários das redes sociais. Os dados a que eles têm acesso são filtrados por um “exército de moderadores” que controlam aquilo que deve ser eliminado (a propósito, você escolhe mesmo os amigos com quem se relaciona no Facebook? Por que só as mesmas pessoas recebem e curtem suas postagens?). Os algoritmos decidem o que você pode dizer aos seus seguidores; eles opinam por você. Como às opiniões corresponde uma identidade, eles acabam tomando o seu lugar no mundo (esse parece ser o propósito inconfesso da Inteligência Artificial!).  
Os alertas quanto à possibilidade de manipulação se completam no texto 3, que aborda os tópicos de notícia selecionados para chegar até o usuário. Tal seleção põe em dúvida a relevância desses tópicos para a tomada de decisões. Pensamos conhecer os principais aspectos de um problema (por exemplo, os efeitos da imigração na economia de um país), mas deles conhecemos apena uma parte. Isso evidentemente compromete a natureza das nossas decisões, que podem muitas vezes ser injustas.
Uma dúvida dos estudantes é se era pertinente abordar as fake news sem fugir ao tema. A meu ver, sim. O importante era não limitar a abordagem às “notícias falsas”.  As fake news manipulam dados, e na linguagem da informática dado é tudo que entra no sistema – de traços emocionais a fatos ou comportamentos que tendem a se repetir. O computador os analisa e extrai deles determinados padrões (os chamados algoritmos). A partir daí é possível promover manipulações que venham deturpar a compreensão do passado e condicionar ações futuras (como a vitória numa eleição).  
Possuir dados significa ter poder, pois a partir deles torna-se possível elaborar algoritmos que preveem e determinam escolhas não apenas individuais como também coletivas. Essa prática, denominada dataísmo, é longamente discutida por Yuval Noah Harari em ahH “Homo Deus” (de quem, a propósito, apresentamos em um dos nossos Simulados uma passagem retirada do best-seller “Sapiens; uma breve história da humanidade”).  
            Segundo Harari, a base do dataísmo é o reconhecimento, promovido pela biologia e pela ciência da computação, de que “organismos são algoritmos e de que girafas, tomates e seres humanos são apenas métodos diferentes de processamento de dados” (p. 371). Esse ponto de vista tem hoje um largo respaldo científico.
Diante disso, não há por que num tema como a manipulação de dados pela internet deixar de fazer menção às fake news, que buscam confundir a percepção que as pessoas têm da realidade e, por meio disso, “dominar” suas escolhas. As notícias falsas não esgotam as possibilidades de manipulação, repito, mas constituem um bom exemplo de como é possível destruir (ou enobrecer) a imagem de pessoas e instituições a fim de mudar o conceito que se tem delas.
O fato de as fake news não terem sido realçadas nos textos motivadores não significa que o candidato devesse desprezá-las. Como o nome o diz, os fragmentos da coletânea visam motivar e não apresentar tópicos exclusivos; fica a critério do candidato explorar outros que também sejam relevantes. 

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Dicas de redação em versos



Não existe fórmula mágica
que leve a escrever bem.
Mesmo assim, aqui vão dicas
pra você brilhar no Enem.

Fique bem atento ao tema,
pois, se dele se afastar,   
a banca não terá pena  
e seu texto vai zerar.

Aproveite as sugestões
da coletânea, porém   
jamais copie partes dela
(usar os dados convém).

Ao desenvolver o tema,
observe a progressão. 
Se repetir as ideias,  
o texto não sai do chão.

Na introdução, não floreie,  
seja objetivo e breve. 
O importante é que deixe
muito clara a sua tese.

Em texto argumentativo,
é fundamental saber
a opinião do autor
sobre o que vai escrever.

Essa opinião, contudo,
carece de fundamento
quando não vem respaldada 
em sólidos argumentos.

Sem argumentos, seu texto
perde a força e se esborracha.
Você não convence a banca  
só por dizer o que “acha”.

Argumente com exemplos,
fatos ou comparações.
Se preciso, lance mão  
de máximas ou citações.

Mas ao citar, observe
se o que traz é pertinente   
ou se apenas faz o texto 
parecer inteligente.  

Citação não é adorno
e no texto ela só cabe
quando dá suporte à tese            
com a voz da autoridade.

Ao argumentar, evite
ser presunçoso. Quem há de
suportar alguém que escreve
como dono da verdade?

Também é fundamental
que não esconda o que sente.   
Ser autêntico é uma virtude
que nos torna convincentes.

A única prática funesta,
que não pode estar nos planos,
é agredir minorias  
(fere os direitos humanos!).

Depois de embasar o texto  
com rica argumentação,
faça com calma e cuidado    
propostas de intervenção.

Antes de escrever, reflita
nos atos que vai propor.
Eles têm que estar ligados
ao que se argumentou.

Propostas que não resolvem    
os problemas discutidos    
fazem com que a conclusão      
tenha um ar de improviso.

Para a proposta ser boa
e traduzir bem o pleito,  
deve apresentar agente
ação, meio e efeito.

Mas isso ainda não basta
para o texto ficar bom.
Suas leituras e treino 
é que vão dar mesmo o tom.

Escreva constantemente.
Refaça o que produziu.
Só muita prática e esforço
lhe farão chegar ao 1000.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

A subjetividade no texto dissertativo

            A dissertação é um texto por meio do qual se utilizam argumentos para defender um ponto de vista. Visa à discussão de um problema, que deve ser tratado de forma objetiva. Essa objetividade pressupõe o predomínio do raciocínio e da lógica. Daí ser recomendável apagar do texto dissertativo as marcas de subjetividade, que enfatizam mais o enunciador do que a mensagem.
           Geralmente se confunde a manifestação da subjetividade com o uso do eu. O problema não é tanto o emprego da primeira pessoa; é sobretudo a forma como o autor desenvolve o tema. A eficácia desse tipo de texto fica comprometida quando o emissor apresenta uma visão emocional e impressionista da realidade. Em vez de julgar, refletir, discutir os fatos, opta pelo achismo ou pela vagueza de expressão.
          Entre os procedimentos que acentuam a subjetividade e comprometem o rigor do texto dissertativo, estão:
          -- a presença de expressões como acho, penso, suponho - Esses verbos devem ser evitados por dois motivos: não trazem nenhuma informação nova e indicam falta de firmeza na manifestação das ideias. Em vez de “Acho que o Brasil precisa de uma nova mentalidade política”, diga simplesmente: “O Brasil precisa de uma nova mentalidade política”.
          -- o uso de hipérboles - O exagero é por excelência um traço emocional. Compromete a objetividade do discurso por se constituir num juízo desmedido, que não caracteriza adequadamente pessoas, objetos e situações. Por exemplo: “A dependência da opinião dos outros é algo trágico que muda a forma de pensar.” “Em meio ao vulcão de hormônios colocados em ebulição pelo processo de crescimento, os jovens se manifestam insatisfeitos.”
           -- o emprego de preciosismos - Entende-se por preciosismo o apelo a vocábulos e construções pouco usuais, com o objetivo de impressionar o leitor. É o que se chama popularmente de falar (ou escrever) difícil. As construções preciosas tendem a conceder mais importância ao enunciador do que ao enunciado. Representam um obstáculo à leitura, que se faz pela previsão gradativa das informações contidas no texto.  Se uma palavra é desconhecida, não pode ser prevista e impede que se antecipe o significado não só dela como das que vêm depois.
           Exemplo de preciosismo: “Deveras questionamos o melhor tratamento que pode ser dado aos nossos filhos, o qual é fundamental ao engendro de sua personalidade”. Quem escreve isso está mais interessado em aparecer do que em dizer. Não se importa com ser ou não entendido.
            -- a linguagem figurada - Deve-se em princípio evitar esse tipo de linguagem.  É preferível a denotação, que favorece a transparência das ideias. Mesmo porque o uso de figuras constitui atributo mais de escritor do que de redator. Ninguém é avaliado no vestibular por sua “veia literária”, mas pela capacidade de desenvolver com clareza, coerência e coesão um tema.
           Isto não significa que se devam proibir as tentativas de dar expressividade ao texto por meio de um ou outro desses recursos expressivos. É impossível escapar totalmente à figuração. O que se deve é retificar as associações impróprias e mostrar ao aluno que a “imagem” precisa ter nexo. O estudante vai acabar se convencendo de que, em vez de se aventurar por esse terreno incerto, é mais seguro usar o repertório que a denotação lhe oferece.
            Escolhendo a denotação, ele será capaz de evitar “armadilhas” como estas:
             - “Devemos sempre buscar as taças de aprovação saudáveis para o equilíbrio emocional.” (Aprovação não é algo que seja medido por “taças”. Por que não dizer simplesmente “níveis”?)
            - “A dependência da opinião dos outros é um buraco na armadura social do indivíduo, deixando-o fraco e vulnerável para o ataque de outras pessoas.” (A ideia de que a dependência fragiliza socialmente o indivíduo tornaria o período mais claro.)
          - “O meio ambiente é o cérebro do mundo, qualquer alteração na sua estrutura pode ocasionar danos que afetarão todos os seus elos.” (Os atributos de reflexão e comando, próprios do cérebro, não se aplicam ao meio ambiente.)

O valor semântico das preposições


       A preposição estabelece uma relação de subordinação entre dois termos. O segundo termo, ou consequente, é um substantivo, um pronome ou um verbo no infinitivo. Por exemplo: Gosto de cinema, Espero por você, Penso em viajar. Poucos atentam para o fato de que esses conectivos têm valor semântico. Embora sejam vocábulos relacionais, preservam um discreto conteúdo significativo e exigem rigor no seu emprego.  
         Quando “se conversa com alguém”, a ideia de contato entre os interlocutores (presente no prefixo) se confirma ou reitera no uso da preposição “com”, que introduz o objeto indireto (Ninguém conversa “em alguém”, ou “por alguém”).  O mesmo se dá com o verbo “concordar”. Já em “discordar” o prefixo significa afastamento, que é um dos valores da preposição “de”. Então se discorda “de alguém” ou “de alguma coisa”.
        Ninguém precisa saber etimologia para usar bem as preposições. Basta ficar atento à regência, ou seja, ao tipo de conectivo que os verbos transitivos indiretos “pedem” antes de seus complementos. Por vezes mais de uma preposição é possível, por vezes não “(Luta-se com ou contra alguém”, por exemplo).   
         Alguns problemas frequentes na escolha das preposições aparecem nas passagens abaixo, retiradas de redações:
1 -  “Discordo plenamente com o seu ponto de vista”
2 - “É preciso refletir em cima das razões que levam a nossa educação a ser tão ruim.”
3 - “Nietzsche critica o fato de as pessoas basearem a autoestima de acordo com a imagem que os outros têm de nós.”
4 - “A prova teve que ser adiada em função do alto número de candidatos.”
5 – “Papai sempre deu valor ao estudo. Essa herança foi herdada por meu avô.”
         É inadequado, como vimos, dizer que alguém “discorda com alguém ou alguma coisa”. Certamente o engano se deve à influência do verbo “concordar”, cujo complemento é introduzido por essa preposição (curiosamente, ninguém diz “concordo de alguém ou algo”).
          Na construção “refletir em cima de”, em vez de “sobre”, ocorre uma tradução errônea deste último conectivo. Ele tem entre seus sentidos o de “posição superior”, mas esse valor só aparece quando a preposição introduz adjunto adverbial (O livro está “sobre a mesa”, ou seja, “em cima da mesa”). Não tem cabimento estendê-lo a construções com objetos indiretos.   
       O verbo “basear” rege complemento com a preposição “em”. Assim, baseia-se a autoestima “na imagem” (e não “de acordo com a imagem”) que os outros têm de nós.   Semelhantemente, é inadequado trocar “em razão de” por “em função de”. A primeira locução tem valor causal, por isto se ajusta melhor à frase do aluno (a prova foi adiada por causa do alto número de candidatos). A segunda, que significa “na dependência de”, seria pertinente numa construção do tipo “Ele vive em função do dinheiro dos pais.”
       No último exemplo, o uso da preposição “por” (e não “de”) sugere que o hábito do estudo se transmitiu, hereditariamente, do pai ao avô! Isso mostra que o emprego indevido das preposições não apenas infringe a norma culta. Também pode afetar a coerência. Usar corretamente esses e outros conectivos (como as conjunções e os pronomes relativos) concorre para conferir unidade ao texto. Ou, como diz Umberto Eco, para lhe dar “beleza lógica”.

sábado, 6 de outubro de 2018

Algoritmo da redação


                         - Um passo a passo para estruturar melhor o texto -

O algoritmo, segundo Yuval Noah Harari, é “um conjunto metódico de passos que pode ser usado na realização de cálculos, na resolução de problemas e na tomada de decisões” (Homo Deus, Companhia das Letras, p. 91). É possível incluir nesse esquema a elaboração de textos dissertativos, que também se dá por meio de passos metódicos. Os passos de um algoritmo de redação não são novidade; constam basicamente da introdução, do desenvolvimento e da conclusão. Nosso objetivo aqui é ilustrar esses passos e apresentar algumas estratégias argumentativas.

A apresentação do tema pode se dar por meio de contextualização histórica, citação, definição etc. Fazendo uma analogia com a  linguagem médica, ela  é como uma “apresentação do caso”. Nessa parte nada se discute nem se propõe, mas é fundamental que se apresente um posicionamento (ponto de vista). Também é aconselhável que se incluam tópicos a serem desenvolvidos nos parágrafos argumentativos. Por exemplo, numa redação sobre “a depressão na adolescência”, podem-se destacar como possíveis razões “o vício em novas tecnologias” e o “consumismo da sociedade”:

         A depressão é considerada o novo mal do século. Ela provoca tristeza, culpa, e em casos extremos pode levar ao suicídio. Um dado preocupante é que tem crescido sobretudo entre os jovens; incide com frequência, por exemplo, em pessoas com 12 a 15 anos. Entre as possíveis causas para esse crescimento estão o vício em novas tecnologias e a inserção dos adolescentes numa sociedade que prioriza os bens materiais em detrimento das necessidades emocionais e afetivas.

No Desenvolvimento, procura-se demonstrar o ponto de vista com uma argumentação convincente. O que torna convincente uma argumentação? O apoio na realidade (mediante a citação de fatos, exemplos ilustrações) e a apresentação de razões. No parágrafo abaixo, acrescenta-se a esses dois procedimentos a referência a uma autoridade citada num dos textos motivadores (não se deve esquecer deles). A argumentação ganha concretude com a menção ao telefone celular e a alguns dos riscos que ele pode trazer; procura-se vincular o seu uso a manifestações do comportamento depressivo (o negativismo e a diminuição da autoestima, por exemplo):

      Ressalte-se, de início, que as novas tecnologias exercem grande fascínio sobre os jovens. Certamente o artefato que mais os atrai é o telefone celular, devido à multiplicidade de funções e ao fácil manuseio. Essas qualidades têm um grande poder viciante e fazem com que o celular se constitua num substitutivo para as relações sociais. Para piorar esse quadro, muito do que se veicula nesse tipo de aparelho são registros de vidas glamurosas e “felizes”, o que leva à comparação com a existência discreta do comum das pessoas. O resultado em muitos jovens, como observa o psiquiatra Rodrigo Leite, é a diminuição da autoestima e o cultivo de uma “visão negativa de si mesmo”.

No parágrafo seguinte, aborda-se o segundo tópico referido na introdução (valorização do consumismo), confrontando o hábito de consumir, bastante estimulado pelo capitalismo, com a índole de indivíduos carentes de valores espirituais e, por isso mesmo, mais propensos a desenvolver depressão:  

 

      Esse quadro, além do mais, acentua-se com a atual tendência ao consumismo. Num contexto em que a felicidade se mede pelo montante da conta bancária e pela quantidade de bens que se consegue acumular, é natural que os que não aspiram a esse ideal pragmático fiquem abatidos e se sintam inferiores. Geralmente são pessoas sensíveis, emocionalmente carentes, para as quais contam sobretudo os valores do espírito. O abandono desses valores acentua a sensação de vazio interior, que é uma das marcas da depressão, e pode levar a um desencanto que culmina no suicídio.

   Na Conclusão, apresentam-se propostas vinculadas ao que foi discutido no Desenvolvimento. Tais propostas devem então consistir em ações que visem à redução do vício em tecnologia e do consumismo:

 

           Diante disso, para reduzir a incidência da depressão entre os jovens, é preciso combater o vício em novas tecnologias (particularmente, no telefone celular) e alertá-los sobre os riscos do consumo excessivo -- tarefas que cabem sobretudo à família e à escola. Compete aos pais incutir nos filhos o gosto pela cultura, facilitando-lhes o acesso a livros, filmes, peças teatrais, a fim de limitar a frequência perniciosa com que se entregam ao celular ou a artefatos semelhantes. A escola, por sua vez, deve enfatizar a formação humanística, associando às tarefas curriculares atividades extraclasse como debates e palestras educativas, a fim de propiciar aos adolescentes um preenchimento espiritual que os afaste do hábito de consumir em excesso. Conforme lembra Zygmunt Bauman, “o problema não é consumir; é o desejo insaciável de continuar consumindo”. Seguramente não é pela busca de satisfazer esse desejo que o depressivo vai preencher o doloroso vazio que sente na alma.

 


             


terça-feira, 18 de setembro de 2018

Redação desenvolvida (com comentários)

                                        RESTRIÇÃO SAUDÁVEL


          O telefone celular é dos mais populares produtos da tecnologia. Por apresentar uma série de funções, ele tanto serve à comunicação quanto facilita o desempenho de uma vasta gama de profissionais. Sua popularidade é maior entre os jovens, que o utilizam sobretudo para o lazer e a troca de mensagens. No entanto o uso desmedido por pessoas nessa faixa de idade o tem levado a ambientes impróprios, como o escolar, o que vem gerando graves problemas disciplinares e pedagógicos.
         A escola é um ambiente de aprendizado, por isso impõe a observância de regras que assegurem a disciplina e a atenção. Quanto mais atento, mais receptivo o aluno se torna ao que é apresentado em sala de aula. Grande parte do mau desempenho dos alunos, e mesmo alguns de seus distúrbios mentais, deve-se à insuficiência de foco naquilo que o professor por vezes se esforça em transmitir. O celular é um dos responsáveis por essa insuficiência, pois requisita o usuário de maneira intensa e obsessiva. Essa é inclusive uma das razões pelas quais ele foi terminantemente proibido nas escolas públicas francesas. 
       Além disso, o celular interfere negativamente no processo ensino-aprendizagem. Ninguém pode negar o papel relevante que as modernas tecnologias desempenham nas práticas pedagógicas, mas nem todas lançam mão de aparelhos celulares. Quando o professor os requisita, orienta previamente a turma, distribui tarefas e, sobretudo, mantém um estrito controle sobre o que os estudantes podem acessar durante a aula. Sem essa orientação, o celular se torna um concorrente dos conteúdos ministrados em sala e diz respeito tão-somente aos interesses do aluno. Não permite, por esse aspecto, distinguir a sala de aula do espaço doméstico ou de recantos recreativos como os shoppings.
          Faz-se então necessário proibir ou disciplinar severamente o uso do celular na escola a fim de que ela não se descaracterize como um espaço no qual é básico manter a atenção. Para tanto, é fundamental que a família e a própria escola orientem os alunos quanto ao seu uso. Isso pode ser feito por meio de palestras, leituras orientadas e apresentação de casos como o da França, onde a proibição teve, segundo o governo francês, um caráter de “desintoxicação”. Os franceses querem exportar seu exemplo para o resto do mundo, e não custa nos espelharmos neles se a meta é manter a disciplina e melhorar o rendimento dos nossos alunos.

                                                   Comentários

Contextualização do tema. Nessa parte o tom é genérico. Opta-se por destacar o papel do celular de modo geral, para em seguida associar o seu uso aos jovens.

Posicionamento pessoal, que geralmente é introduzido por uma expressão adversativa (no entanto, porém) ou por um termo que problematize a questão antes de se formular explicitamente o ponto de vista (tese) -- no caso, o de que o uso indiscriminado do celular o tem levado a um ambiente impróprio como o da escola. Note que o ponto de vista se desmembra em dois tópicos (problemas disciplinares e problemas pedagógicos), dos quais se tratará nos parágrafos argumentativos.

O tópico frasal constitui uma justificativa para o que é primeiramente apontado na tese (problemas disciplinares). Seu desenvolvimento amplifica, com uma sucessão de argumentos causais/explicativos, a informação de que, sendo um ambiente de aprendizado, a escola requer disciplina e em princípio exclui o uso de elementos perturbadores como o celular. Um de seus efeitos é promover a redução do foco, o que leva a carência no desempenho e mesmo a transtornos mentais.

No parágrafo seguinte, ressalta-se no tópico frasal a influência negativa do celular no processo ensino-aprendizagem. Reforça-se essa ideia com o argumento de que ele nem sempre se inclui nos planos do professor; depreende-se daí que pode ser usado quando ocorre essa inclusão. Outro argumento apresentado é o pragmático, ou de consequência, para mostrar os efeitos de um uso alheio às tarefas de classe (concorrer com os conteúdos ministrados e servir basicamente ao aluno, que pode, em tese, utilizá-lo como quiser).

No parágrafo conclusivo, reitera-se com base nas razões alegadas a necessidade de proibir ou restringir o uso desse artefato eletrônico. A seguir destacam-se os agentes (família, escola) e os meios pelos quais se pode proceder a isso. A alusão à França ilustra a ideia de que o celular traz prejuízos e deve ser, se não proibido, pelo menos objeto de severa restrição. Funciona como uma espécie de argumento de autoridade e confere força à proposta. Diante disso, pode constituir um bom fecho, já que é sempre bom encerrar o texto com uma informação que cale fundo na inteligência ou na sensibilidade do leitor.                                              

domingo, 16 de setembro de 2018

O que mais conta na redação do Enem

Um bom desempenho na redação pode garantir o acesso à universidade. Como fazer para produzir um texto que atenda aos requisitos exigidos pela banca? 
O guia divulgado pelo Inep ajuda a responder essas perguntas. Trata-se de uma importante ferramenta para o aluno e sobretudo para o professor, que tem nele um excelente roteiro de trabalho em sala de aula. Percebe-se que a maior preocupação dos seus elaboradores foi estabelecer critérios o mais possível objetivos, de maneira a uniformizar o processo de correção.
Tal preocupação se justifica num universo heterogêneo como o do Enem, em que à variedade dos alunos soma-se a diversidade dos corretores; há desde professores do ensino médio sem pós-graduação, até docentes universitários com mestrado ou doutorado. Diz-se que os primeiros tendem a observar mais as infrações à norma culta, enquanto que os segundos se detêm nos argumentos e nos fatores de textualidade (coesão, coerência, aceitabilidade etc.).
Caso isso ocorra mesmo, o balizamento apresentado no guia (que explicita, em cada competência, o que se deve ou não levar em conta) concorrerá para que o processo de avaliação se uniformize. O ideal é que uma mesma prova seja avaliada por professores de diferentes níveis de formação. Mesmo que isso não ocorra, a possibilidade de se recorrer a até quatro corretores reduzirá eventuais desequilíbrios.
A verdade é que não tem cabimento essa divisão entre normativistas (ou gramatiqueiros) e conteudistas. O texto é uma estrutura, e como toda estrutura caracteriza-se pela organicidade, o equilíbrio de suas partes. Não há como produzir um texto argumentativamente bom com falhas na concordância, na semântica ou na pontuação.
O que professores e alunos devem fazer é ler com atenção os cinco textos que obtiveram nota 1000 e aparecem no guia como modelos. A leitura cuidadosa deles é a melhor forma de saber o que conta (e o que não é tão importante) na redação. E o que conta mesmo?
Uma ou outra das redações escolhidas apresenta pequenos problemas de gramática ou pontuação, mas em todas é possível perceber:
- a boa estruturação do parágrafo, que se desenvolve em torno de um tópico (articulado, a partir do segundo, ao parágrafo anterior);
- a clara manifestação de um ponto de vista, que é devidamente justificado por meio de argumentos causais ou factuais (exemplos, ilustrações);
- o domínio expositivo, ou seja, a capacidade de desenvolver o tema progressivamente, sem desvios ou repetições, da introdução à conclusão;
- a apresentação de propostas de intervenção social articuladas com o ponto de vista e a argumentação. Esse ponto é muito importante; o candidato não deve propor medidas que nada tenham a ver com o que foi problematizado.  
        É sobretudo pelo atendimento a esses quatro requisitos que vai se medir a competência textual dos candidatos.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

12 possíveis temas para a redação do Enem


                                            CRIMINALIDADE NA CLASSE MÉDIA   
           
Num movimento social inesperado, jovens de classe média e alta entram cada vez mais no mundo do crime violento. As cadeias estão ficando mais democráticas: um censo feito pela Secretaria de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro mostra que 15% dos presos têm renda familiar de mais de cinco salários mínimos. E nada menos que 5% dos detentos estão na faixa de renda que o Ipobe enquadra como classe A. Entre os fatores que podem levar um jovem de classe média ao crime, a revista destaca, pela ordem: desejo de bens de consumo inalcançáveis; gosto pela transgressão; glamourização do crime; desestruturação familiar; ostentação de poder; estagnação profissional.

                                    DEPENDÊNCIA DA INTERNET

            Segundo Hurbert Poppe, médico austríaco de uma clínica especializada em curas de desintoxicação para alcoólicos e toxicodependentes, calcula-se que cerca de 3% dos usuários regulares da internet desenvolvam algum tipo de dependência. De acordo com o médico, trata-se de um tipo de dependência que não está relacionada com uma substância determinada, sendo semelhante à ludopatia dos jogadores compulsivos e afeta sobretudo pessoas tímidas ou que têm inclinação para a misantropia.


A CORRUPÇÃO NO BRASIL 

O Índice de Percepção de Corrupção 2004, que inclui 146 países, coloca o Brasil na 59ª posição, com 3,9 pontos numa escala que vai de 1 a 10 pontos. Quanto mais baixa a pontuação, maior a corrupção percebida no país. O desempenho brasileiro ficou acima da média da América Latina, de 3,5, mas é possível que tenhamos caído um pouco mais depois das denúncias envolvendo o mensalão. A corrupção é um antigo mal nosso e, pelo visto, está longe de ser erradicada. Que fatores a explicariam, e por que ela se implantou de forma tão intensa entre nós?

                                                            FÉ E FANATISMO
                     
               Há vários riscos de se confundir com fanatismo. Para alguns, a diferença é apenas uma questão de intensidade. Fanáticos seriam aqueles cuja é absoluta, não deixaria nenhuma brecha à dúvida. A absoluta teria uma razão própria, um território seu, onde não se sofreria nenhum tipo de contestação. Se o sentimento religioso é necessário ao equilíbrio psicológico do homem, por que algumas pessoas se achem detentoras exclusivas da verdade nesse terreno – a ponto de destruir os que não concordam com seu modo de pensar?

  SUCESSO E FELICIDADE

Sucesso é o novo nome da felicidade. É o ideal forjado pela sociedade de consumo para nos levar a cada vez mais adquirir coisas. Antigamente a nossa suprema aspiração era ser feliz. Hoje desejamos o sucesso, que é uma felicidade quantificada, rotulada, carimbada com a marca do prestígio e do dinheiro. A felicidade não precisa de espectadores nem de aplauso. o sucesso se completa com o olhar do outro.

                                                  FEMINISMO E NOVA MULHER

Um estudo feito por pesquisadores de quatro universidades britânicas e que foi divulgado na semana passada, sugere que homens inteligentes com cargos exigentes preferem ter mulheres à moda antiga, como suas mães, a ter mulheres iguais a eles. O estudo descobriu que o QI alto prejudica as probabilidades de uma mulher se casar, enquanto para os homens é uma vantagem. A perspectiva de casamento para os homens aumenta 35% para cada aumento de 16 pontos no QI; para as mulheres, há uma queda de 40% para cada aumento de 16 pontos. Então o movimento feminista foi uma espécie de armadilha cruel? Quanto mais as mulheres conquistam, menos são desejáveis?

                                                     PROSTITUIÇÃO INFANTIL 

Como toda atividade clandestina, a prostituição infantil sempre foi abafada. Na visão da grande maioria das pessoas, não dos leigos como também dos instruídos, acredita-se que os principais clientes que procuram pelos serviços das menores eram os turistas estrangeiros, que vêm para o país e se encantam com as mulheres seminuas que encontram nas praias e, por que não?, nas ruas. No entanto, o trabalho da polícia mostra que a maioria dos clientes são brasileiros de classe média alta e rica, empresários bem- sucedidos, aparentemente bem casados e, algumas vezes, com filhos adultos ou crianças. Além dos empresários estão, também, na lista, os motoristas de caminhão e de táxis, gerentes de hotéis e até mesmo os policiais.

                                                       MERCADORES DA FÉ

O homem não se explica por si mesmo: precisa acreditar em alguém, ou em alguma coisa, que o transcenda. Mas essa necessidade de mistério, ao mesmo tempo que fortalece o ser humano, fragiliza-o, dando margem a que ele venha a depender de todo tipo de aproveitadores. Ultimamente, têm-se multiplicado os livros de supostos gurus, as terapias energéticas ouespirituais” e os duvidosos testemunhos – reforçados pela indústria do cinemaacerca de contatos ou experiências com seres de outros planetas. Existe algum tipo de fundamento, ou de veracidade, em criações ou produções dessa espécie?
                       
                                             TRANSGÊNICOS
    
A pesquisa com os organismos geneticamente modificados tornaria possível ao Brasil resolver grande parte de seus problemas com alimentação. “Tornaria”, poisque se levar em conta a posição dos ambientalistas. Eles alegam que os transgênicos ainda não são comprovadamente seguros para consumo e que também podem causar desequilíbrios ambientais. os defensores enumeram as vantagens para os agricultores: melhor produtividade com plantas resistentes a pragas e variações de temperatura, além da possibilidade de aumentar o valor nutricional dos alimentos.

                                     O HOMEM E A MÁQUINA

Numa época em que muito se fala de robôs e clones, é interessante questionar a natureza e as possibilidades dos artefatos mecânicos, eletrônicos, cibernéticos: passariam eles um dia de simples instrumentos a substitutos do próprio homem, desobrigando-o de atitudes e responsabilidades que, em última instância, lhe definem a humanidade?

                                        A FOME NO MUNDO

quatro anos, líderes de 191 países se comprometeram em reunião organizada pelas Nações Unidas a alcançar as oito metas do milênio. Entre elas, certamente a mais importante é erradicar a extrema pobreza e a fome. O que será preciso fazer, no âmbito da administração de cada país, da política internacional e das relações socioeconômicas globais – organizadas hoje sob o primado do capitalismopara que esse objetivo seja alcançado?

                                     ECOLOGIA E PROGRESSO

Em entrevista a um dos últimos números de Veja, o presidente do Instituto  Worldwatch, Lester Brown, faz um sério alerta acerca do futuro da humanidade, chamando a atenção para o que pode acontecer à Terra caso não despertemos de uma vez para o problema ecológico. Parece que o homem, hoje, encontra-se numa encruzilhada entre o crescimento tecnológico e industrial, e a sobrevivência do planeta. Será que, para se chegar a um, tem-se que necessariamente sacrificar a outra, com o risco de extinção da própria humanidade?