Os professores de redação geralmente orientam
os alunos a não repetir palavras. A repetição denota pobreza vocabular e torna o
texto monótono. Vai de encontro à própria natureza da prosa, que se caracteriza
pela progressão diversificada do pensamento.
Um de meus alunos levou muito a sério essa
recomendação. Tanto que escreveu num texto sobre a diferença na forma como os pais
de duas diferentes culturas educam os filhos: “Enquanto nos países latinos os procedentes são tratados com excesso de
amor, nos escandinavos eles são tratados apenas com respeito.”
O estudante não quis repetir
“filhos” e substituiu essa palavra por outra que lhe pareceu adequada. Talvez
tenha ido ao dicionário e se deparado com este sentido de “procedente”: “que
descende de”, “descendente”. Só que esse vocábulo é um adjetivo, e não um substantivo.
Além do mais, não constitui um equivalente semântico para “filhos”. Na melhor
das hipóteses funcionaria com um substituto precioso, pouco natural.
O ideal é que o redator tenha um repertório vocabular que lhe permita variar
as palavras. Na falta disso, é melhor repetir do que tornar obscura a
mensagem. Autran Dourado escreve, em
“Meu mestre imaginário”, que “não repetir palavras é uma bobagem muito grande”.
O que ele diz se aplica sobretudo à prosa literária, na qual a repetição tem valor
estilístico, mas vale também para os gêneros em que a maior preocupação é argumentar.
Nesses últimos, por sinal, mais grave
do que repetir palavras é repetir ideias. A recorrência de conceitos,
propostas, informações tende a fazer o texto circular em torno de um mesmo ponto.
Sugere que a redação foi mal pensada e que o autor não elaborou um esquema que
o conduzisse da introdução à conclusão.
É possível, mesmo repetindo palavras,
fazer avançar o raciocínio e defender com sucesso um ponto de vista. O que não
se pode é apresentar com rigor e clareza a opinião num texto truncado, em que a
falta do que dizer traduz-se em insuficiência argumentativa.
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