terça-feira, 18 de setembro de 2018

Redação desenvolvida (com comentários)

                                        RESTRIÇÃO SAUDÁVEL


          O telefone celular é dos mais populares produtos da tecnologia. Por apresentar uma série de funções, ele tanto serve à comunicação quanto facilita o desempenho de uma vasta gama de profissionais. Sua popularidade é maior entre os jovens, que o utilizam sobretudo para o lazer e a troca de mensagens. No entanto o uso desmedido por pessoas nessa faixa de idade o tem levado a ambientes impróprios, como o escolar, o que vem gerando graves problemas disciplinares e pedagógicos.
         A escola é um ambiente de aprendizado, por isso impõe a observância de regras que assegurem a disciplina e a atenção. Quanto mais atento, mais receptivo o aluno se torna ao que é apresentado em sala de aula. Grande parte do mau desempenho dos alunos, e mesmo alguns de seus distúrbios mentais, deve-se à insuficiência de foco naquilo que o professor por vezes se esforça em transmitir. O celular é um dos responsáveis por essa insuficiência, pois requisita o usuário de maneira intensa e obsessiva. Essa é inclusive uma das razões pelas quais ele foi terminantemente proibido nas escolas públicas francesas. 
       Além disso, o celular interfere negativamente no processo ensino-aprendizagem. Ninguém pode negar o papel relevante que as modernas tecnologias desempenham nas práticas pedagógicas, mas nem todas lançam mão de aparelhos celulares. Quando o professor os requisita, orienta previamente a turma, distribui tarefas e, sobretudo, mantém um estrito controle sobre o que os estudantes podem acessar durante a aula. Sem essa orientação, o celular se torna um concorrente dos conteúdos ministrados em sala e diz respeito tão-somente aos interesses do aluno. Não permite, por esse aspecto, distinguir a sala de aula do espaço doméstico ou de recantos recreativos como os shoppings.
          Faz-se então necessário proibir ou disciplinar severamente o uso do celular na escola a fim de que ela não se descaracterize como um espaço no qual é básico manter a atenção. Para tanto, é fundamental que a família e a própria escola orientem os alunos quanto ao seu uso. Isso pode ser feito por meio de palestras, leituras orientadas e apresentação de casos como o da França, onde a proibição teve, segundo o governo francês, um caráter de “desintoxicação”. Os franceses querem exportar seu exemplo para o resto do mundo, e não custa nos espelharmos neles se a meta é manter a disciplina e melhorar o rendimento dos nossos alunos.

                                                   Comentários

Contextualização do tema. Nessa parte o tom é genérico. Opta-se por destacar o papel do celular de modo geral, para em seguida associar o seu uso aos jovens.

Posicionamento pessoal, que geralmente é introduzido por uma expressão adversativa (no entanto, porém) ou por um termo que problematize a questão antes de se formular explicitamente o ponto de vista (tese) -- no caso, o de que o uso indiscriminado do celular o tem levado a um ambiente impróprio como o da escola. Note que o ponto de vista se desmembra em dois tópicos (problemas disciplinares e problemas pedagógicos), dos quais se tratará nos parágrafos argumentativos.

O tópico frasal constitui uma justificativa para o que é primeiramente apontado na tese (problemas disciplinares). Seu desenvolvimento amplifica, com uma sucessão de argumentos causais/explicativos, a informação de que, sendo um ambiente de aprendizado, a escola requer disciplina e em princípio exclui o uso de elementos perturbadores como o celular. Um de seus efeitos é promover a redução do foco, o que leva a carência no desempenho e mesmo a transtornos mentais.

No parágrafo seguinte, ressalta-se no tópico frasal a influência negativa do celular no processo ensino-aprendizagem. Reforça-se essa ideia com o argumento de que ele nem sempre se inclui nos planos do professor; depreende-se daí que pode ser usado quando ocorre essa inclusão. Outro argumento apresentado é o pragmático, ou de consequência, para mostrar os efeitos de um uso alheio às tarefas de classe (concorrer com os conteúdos ministrados e servir basicamente ao aluno, que pode, em tese, utilizá-lo como quiser).

No parágrafo conclusivo, reitera-se com base nas razões alegadas a necessidade de proibir ou restringir o uso desse artefato eletrônico. A seguir destacam-se os agentes (família, escola) e os meios pelos quais se pode proceder a isso. A alusão à França ilustra a ideia de que o celular traz prejuízos e deve ser, se não proibido, pelo menos objeto de severa restrição. Funciona como uma espécie de argumento de autoridade e confere força à proposta. Diante disso, pode constituir um bom fecho, já que é sempre bom encerrar o texto com uma informação que cale fundo na inteligência ou na sensibilidade do leitor.                                              

domingo, 16 de setembro de 2018

O que mais conta na redação do Enem

Um bom desempenho na redação pode garantir o acesso à universidade. Como fazer para produzir um texto que atenda aos requisitos exigidos pela banca? 
O guia divulgado pelo Inep ajuda a responder essas perguntas. Trata-se de uma importante ferramenta para o aluno e sobretudo para o professor, que tem nele um excelente roteiro de trabalho em sala de aula. Percebe-se que a maior preocupação dos seus elaboradores foi estabelecer critérios o mais possível objetivos, de maneira a uniformizar o processo de correção.
Tal preocupação se justifica num universo heterogêneo como o do Enem, em que à variedade dos alunos soma-se a diversidade dos corretores; há desde professores do ensino médio sem pós-graduação, até docentes universitários com mestrado ou doutorado. Diz-se que os primeiros tendem a observar mais as infrações à norma culta, enquanto que os segundos se detêm nos argumentos e nos fatores de textualidade (coesão, coerência, aceitabilidade etc.).
Caso isso ocorra mesmo, o balizamento apresentado no guia (que explicita, em cada competência, o que se deve ou não levar em conta) concorrerá para que o processo de avaliação se uniformize. O ideal é que uma mesma prova seja avaliada por professores de diferentes níveis de formação. Mesmo que isso não ocorra, a possibilidade de se recorrer a até quatro corretores reduzirá eventuais desequilíbrios.
A verdade é que não tem cabimento essa divisão entre normativistas (ou gramatiqueiros) e conteudistas. O texto é uma estrutura, e como toda estrutura caracteriza-se pela organicidade, o equilíbrio de suas partes. Não há como produzir um texto argumentativamente bom com falhas na concordância, na semântica ou na pontuação.
O que professores e alunos devem fazer é ler com atenção os cinco textos que obtiveram nota 1000 e aparecem no guia como modelos. A leitura cuidadosa deles é a melhor forma de saber o que conta (e o que não é tão importante) na redação. E o que conta mesmo?
Uma ou outra das redações escolhidas apresenta pequenos problemas de gramática ou pontuação, mas em todas é possível perceber:
- a boa estruturação do parágrafo, que se desenvolve em torno de um tópico (articulado, a partir do segundo, ao parágrafo anterior);
- a clara manifestação de um ponto de vista, que é devidamente justificado por meio de argumentos causais ou factuais (exemplos, ilustrações);
- o domínio expositivo, ou seja, a capacidade de desenvolver o tema progressivamente, sem desvios ou repetições, da introdução à conclusão;
- a apresentação de propostas de intervenção social articuladas com o ponto de vista e a argumentação. Esse ponto é muito importante; o candidato não deve propor medidas que nada tenham a ver com o que foi problematizado.  
        É sobretudo pelo atendimento a esses quatro requisitos que vai se medir a competência textual dos candidatos.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

12 possíveis temas para a redação do Enem


                                            CRIMINALIDADE NA CLASSE MÉDIA   
           
Num movimento social inesperado, jovens de classe média e alta entram cada vez mais no mundo do crime violento. As cadeias estão ficando mais democráticas: um censo feito pela Secretaria de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro mostra que 15% dos presos têm renda familiar de mais de cinco salários mínimos. E nada menos que 5% dos detentos estão na faixa de renda que o Ipobe enquadra como classe A. Entre os fatores que podem levar um jovem de classe média ao crime, a revista destaca, pela ordem: desejo de bens de consumo inalcançáveis; gosto pela transgressão; glamourização do crime; desestruturação familiar; ostentação de poder; estagnação profissional.

                                    DEPENDÊNCIA DA INTERNET

            Segundo Hurbert Poppe, médico austríaco de uma clínica especializada em curas de desintoxicação para alcoólicos e toxicodependentes, calcula-se que cerca de 3% dos usuários regulares da internet desenvolvam algum tipo de dependência. De acordo com o médico, trata-se de um tipo de dependência que não está relacionada com uma substância determinada, sendo semelhante à ludopatia dos jogadores compulsivos e afeta sobretudo pessoas tímidas ou que têm inclinação para a misantropia.


A CORRUPÇÃO NO BRASIL 

O Índice de Percepção de Corrupção 2004, que inclui 146 países, coloca o Brasil na 59ª posição, com 3,9 pontos numa escala que vai de 1 a 10 pontos. Quanto mais baixa a pontuação, maior a corrupção percebida no país. O desempenho brasileiro ficou acima da média da América Latina, de 3,5, mas é possível que tenhamos caído um pouco mais depois das denúncias envolvendo o mensalão. A corrupção é um antigo mal nosso e, pelo visto, está longe de ser erradicada. Que fatores a explicariam, e por que ela se implantou de forma tão intensa entre nós?

                                                            FÉ E FANATISMO
                     
               Há vários riscos de se confundir com fanatismo. Para alguns, a diferença é apenas uma questão de intensidade. Fanáticos seriam aqueles cuja é absoluta, não deixaria nenhuma brecha à dúvida. A absoluta teria uma razão própria, um território seu, onde não se sofreria nenhum tipo de contestação. Se o sentimento religioso é necessário ao equilíbrio psicológico do homem, por que algumas pessoas se achem detentoras exclusivas da verdade nesse terreno – a ponto de destruir os que não concordam com seu modo de pensar?

  SUCESSO E FELICIDADE

Sucesso é o novo nome da felicidade. É o ideal forjado pela sociedade de consumo para nos levar a cada vez mais adquirir coisas. Antigamente a nossa suprema aspiração era ser feliz. Hoje desejamos o sucesso, que é uma felicidade quantificada, rotulada, carimbada com a marca do prestígio e do dinheiro. A felicidade não precisa de espectadores nem de aplauso. o sucesso se completa com o olhar do outro.

                                                  FEMINISMO E NOVA MULHER

Um estudo feito por pesquisadores de quatro universidades britânicas e que foi divulgado na semana passada, sugere que homens inteligentes com cargos exigentes preferem ter mulheres à moda antiga, como suas mães, a ter mulheres iguais a eles. O estudo descobriu que o QI alto prejudica as probabilidades de uma mulher se casar, enquanto para os homens é uma vantagem. A perspectiva de casamento para os homens aumenta 35% para cada aumento de 16 pontos no QI; para as mulheres, há uma queda de 40% para cada aumento de 16 pontos. Então o movimento feminista foi uma espécie de armadilha cruel? Quanto mais as mulheres conquistam, menos são desejáveis?

                                                     PROSTITUIÇÃO INFANTIL 

Como toda atividade clandestina, a prostituição infantil sempre foi abafada. Na visão da grande maioria das pessoas, não dos leigos como também dos instruídos, acredita-se que os principais clientes que procuram pelos serviços das menores eram os turistas estrangeiros, que vêm para o país e se encantam com as mulheres seminuas que encontram nas praias e, por que não?, nas ruas. No entanto, o trabalho da polícia mostra que a maioria dos clientes são brasileiros de classe média alta e rica, empresários bem- sucedidos, aparentemente bem casados e, algumas vezes, com filhos adultos ou crianças. Além dos empresários estão, também, na lista, os motoristas de caminhão e de táxis, gerentes de hotéis e até mesmo os policiais.

                                                       MERCADORES DA FÉ

O homem não se explica por si mesmo: precisa acreditar em alguém, ou em alguma coisa, que o transcenda. Mas essa necessidade de mistério, ao mesmo tempo que fortalece o ser humano, fragiliza-o, dando margem a que ele venha a depender de todo tipo de aproveitadores. Ultimamente, têm-se multiplicado os livros de supostos gurus, as terapias energéticas ouespirituais” e os duvidosos testemunhos – reforçados pela indústria do cinemaacerca de contatos ou experiências com seres de outros planetas. Existe algum tipo de fundamento, ou de veracidade, em criações ou produções dessa espécie?
                       
                                             TRANSGÊNICOS
    
A pesquisa com os organismos geneticamente modificados tornaria possível ao Brasil resolver grande parte de seus problemas com alimentação. “Tornaria”, poisque se levar em conta a posição dos ambientalistas. Eles alegam que os transgênicos ainda não são comprovadamente seguros para consumo e que também podem causar desequilíbrios ambientais. os defensores enumeram as vantagens para os agricultores: melhor produtividade com plantas resistentes a pragas e variações de temperatura, além da possibilidade de aumentar o valor nutricional dos alimentos.

                                     O HOMEM E A MÁQUINA

Numa época em que muito se fala de robôs e clones, é interessante questionar a natureza e as possibilidades dos artefatos mecânicos, eletrônicos, cibernéticos: passariam eles um dia de simples instrumentos a substitutos do próprio homem, desobrigando-o de atitudes e responsabilidades que, em última instância, lhe definem a humanidade?

                                        A FOME NO MUNDO

quatro anos, líderes de 191 países se comprometeram em reunião organizada pelas Nações Unidas a alcançar as oito metas do milênio. Entre elas, certamente a mais importante é erradicar a extrema pobreza e a fome. O que será preciso fazer, no âmbito da administração de cada país, da política internacional e das relações socioeconômicas globais – organizadas hoje sob o primado do capitalismopara que esse objetivo seja alcançado?

                                     ECOLOGIA E PROGRESSO

Em entrevista a um dos últimos números de Veja, o presidente do Instituto  Worldwatch, Lester Brown, faz um sério alerta acerca do futuro da humanidade, chamando a atenção para o que pode acontecer à Terra caso não despertemos de uma vez para o problema ecológico. Parece que o homem, hoje, encontra-se numa encruzilhada entre o crescimento tecnológico e industrial, e a sobrevivência do planeta. Será que, para se chegar a um, tem-se que necessariamente sacrificar a outra, com o risco de extinção da própria humanidade?