sábado, 11 de novembro de 2023

Sobre a sínquise

 

“Flagrem-se o Príncipe da Dinamarca – com um crânio humano na mão – como marca da reflexão;

Sansão,

com o de um burro, 

a da ação...”.

 

(Waldemar J. Solha. ESSE É O HOMEM  )

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A sínquise é a apresentação invertida ou lacunosa dos termos oracionais.  

Raramente se vê um caso dessa figura hoje, quando se recomenda (mesmo na poesia) a economia nas inversões e elipses a fim de atingir mais facilmente o leitor. A sínquise, no entanto, pelo esforço que demanda para a apreensão da mensagem, pode ter um bom efeito retórico.

Ela tende a promover a “duração da percepção”, de que fala Chklovski, e se coaduna com a associação de conteúdos antitéticos –  como é o caso da passagem acima, na qual o autor traça um paralelo entre o reflexivo Hamlet e o embrutecido Sansão.

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Quebra do paralelismo semântico


     A quebra do paralelismo semântico (uma forma de enumeração caótica) é a coordenação de termos que pertencem a áreas semânticas distintas. Nessa passagem de Machado, o aparecimento de substantivo concreto (meias de seda) rompe a sequência de substantivos abstratos (devoção e irreligião). A ruptura, feita com propósito estilístico, quebra a expectativa do leitor. Ela visa ironicamente ressaltar o apego de Benedito aos bens materiais e a sua “versatilidade” para conviver com visões de mundo opostas às suas.