quarta-feira, 17 de outubro de 2018

A subjetividade no texto dissertativo

            A dissertação é um texto por meio do qual se utilizam argumentos para defender um ponto de vista. Visa à discussão de um problema, que deve ser tratado de forma objetiva. Essa objetividade pressupõe o predomínio do raciocínio e da lógica. Daí ser recomendável apagar do texto dissertativo as marcas de subjetividade, que enfatizam mais o enunciador do que a mensagem.
           Geralmente se confunde a manifestação da subjetividade com o uso do eu. O problema não é tanto o emprego da primeira pessoa; é sobretudo a forma como o autor desenvolve o tema. A eficácia desse tipo de texto fica comprometida quando o emissor apresenta uma visão emocional e impressionista da realidade. Em vez de julgar, refletir, discutir os fatos, opta pelo achismo ou pela vagueza de expressão.
          Entre os procedimentos que acentuam a subjetividade e comprometem o rigor do texto dissertativo, estão:
          -- a presença de expressões como acho, penso, suponho - Esses verbos devem ser evitados por dois motivos: não trazem nenhuma informação nova e indicam falta de firmeza na manifestação das ideias. Em vez de “Acho que o Brasil precisa de uma nova mentalidade política”, diga simplesmente: “O Brasil precisa de uma nova mentalidade política”.
          -- o uso de hipérboles - O exagero é por excelência um traço emocional. Compromete a objetividade do discurso por se constituir num juízo desmedido, que não caracteriza adequadamente pessoas, objetos e situações. Por exemplo: “A dependência da opinião dos outros é algo trágico que muda a forma de pensar.” “Em meio ao vulcão de hormônios colocados em ebulição pelo processo de crescimento, os jovens se manifestam insatisfeitos.”
           -- o emprego de preciosismos - Entende-se por preciosismo o apelo a vocábulos e construções pouco usuais, com o objetivo de impressionar o leitor. É o que se chama popularmente de falar (ou escrever) difícil. As construções preciosas tendem a conceder mais importância ao enunciador do que ao enunciado. Representam um obstáculo à leitura, que se faz pela previsão gradativa das informações contidas no texto.  Se uma palavra é desconhecida, não pode ser prevista e impede que se antecipe o significado não só dela como das que vêm depois.
           Exemplo de preciosismo: “Deveras questionamos o melhor tratamento que pode ser dado aos nossos filhos, o qual é fundamental ao engendro de sua personalidade”. Quem escreve isso está mais interessado em aparecer do que em dizer. Não se importa com ser ou não entendido.
            -- a linguagem figurada - Deve-se em princípio evitar esse tipo de linguagem.  É preferível a denotação, que favorece a transparência das ideias. Mesmo porque o uso de figuras constitui atributo mais de escritor do que de redator. Ninguém é avaliado no vestibular por sua “veia literária”, mas pela capacidade de desenvolver com clareza, coerência e coesão um tema.
           Isto não significa que se devam proibir as tentativas de dar expressividade ao texto por meio de um ou outro desses recursos expressivos. É impossível escapar totalmente à figuração. O que se deve é retificar as associações impróprias e mostrar ao aluno que a “imagem” precisa ter nexo. O estudante vai acabar se convencendo de que, em vez de se aventurar por esse terreno incerto, é mais seguro usar o repertório que a denotação lhe oferece.
            Escolhendo a denotação, ele será capaz de evitar “armadilhas” como estas:
             - “Devemos sempre buscar as taças de aprovação saudáveis para o equilíbrio emocional.” (Aprovação não é algo que seja medido por “taças”. Por que não dizer simplesmente “níveis”?)
            - “A dependência da opinião dos outros é um buraco na armadura social do indivíduo, deixando-o fraco e vulnerável para o ataque de outras pessoas.” (A ideia de que a dependência fragiliza socialmente o indivíduo tornaria o período mais claro.)
          - “O meio ambiente é o cérebro do mundo, qualquer alteração na sua estrutura pode ocasionar danos que afetarão todos os seus elos.” (Os atributos de reflexão e comando, próprios do cérebro, não se aplicam ao meio ambiente.)

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