segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Muito tititi pra pouco pajubá


Uma questão do Enem tem sido muito criticada por fazer menção ao pajubá, dialeto secreto usado por gays e travestis. No comando, a banca apresenta uma frase nesse dialeto e dá outras informações, como as de que ele é usado em situações informais e já constitui objeto de um dicionário.
Na questão não se especifica o sentido de nenhuma palavra do dialeto, pois o propósito não é explicá-lo mas sim apresentá-lo como um conjunto específico de variantes ligadas a determinado grupo. O grupo enfocado poderia ser qualquer outro – jovens, marinheiros, marginais, enfim, qualquer um que tenha a sua linguagem cifrada. Diante disso, o aluno poderia responder a questão sem conhecer nenhum termo vinculado ao universo dos gays ou dos travestis.
Por sinal, quem tem vulgarizado esses termos são os críticos, que estão despertando a curiosidade das pessoas justamente para aquilo que em tese desejam proibir. Foi através de um vídeo furibundo contra a prova, por exemplo, que muita gente ficou sabendo o que significa “acué” e “picumã”.
A garotada deveria passar ao largo desses termos e se deter no conceito linguístico de dialeto. Se algum reparo se deve fazer, é à ênfase que o Enem tem dado a classificações e tipologias (algumas polêmicas) em detrimento da avaliação dos recursos linguísticos que articulam os componentes textuais.

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