Pleonasmo
é o excesso de palavras para indicar uma mesma ideia. Constitui um vício quando
não reforça a expressão. Exemplo conhecido de reforço é a locução “vi com meus próprios
olhos”, em que o adjunto adverbial enfatiza a veracidade do que se constatou. Expressivos
são também os “epítetos de natureza”, que realçam atributos naturais de seres
ou objetos: “mar salgado”, noite escura, gelo frio, “cadáver mudo” etc.
Costuma-se,
na área do pleonasmo, distinguir a tautologia
da redundância. A tautologia consiste
em dizer a mesma coisa com outras palavras. Numa redação sobre o desafio de
convier com as diferenças, um de nossos alunos escreveu: “Conviver com o outro é um desafio para todos
nós, pois cada indivíduo possui hábitos e opiniões diferentes, que não são iguais aos nossos.” As
partes em negrito são tautológicas porque repetem o que está semanticamente expresso
no verbo “conviver” e no adjetivo “diferentes”.
Seguem
outros exemplos, também retirados de redações:
- “O excesso
de poder nas mãos
dos traficantes faz com que a polícia
declare uma guerra bélica contra
eles , afetando civis e militares .”
- “A dependência à opinião dos
outros resulta em baixa autoestima, submissão passiva às vontades do outro e dificuldade em expressar sua
opinião.”
- “As pessoas colocam o trabalho como primeira prioridade na vida.”
Em casos assim não há como falar em
“epíteto de natureza”; a intensificação decorre, basicamente, do desconhecimento
do sentido etimológico. Os autores ignoram que os substantivos “guerra”, “submissão”
e “prioridade” contêm em seus radicais a ideia presente nos determinantes “bélica”,
“passiva” e “primeira”. Pode-se argumentar quanto ao terceiro exemplo que
existe uma hierarquia de prioridades, e que o aluno se referiu à mais importante.
O contexto da redação, no entanto, mostrava não ser esse o caso.
A redundância se distingue da
tautologia por ser a “repetição de pormenores já implícitos em declaração
prévia” (Othon M. Garcia, Comunicação em
prosa moderna, p. 319). Exemplo: “De acordo com o pesquisador britânico
Richard Lynn, os ateus são mais inteligentes do que os religiosos e possuem o quociente de inteligência (QI)
significativamente mais alto.” O que se acrescenta sobre a maior inteligência
dos ateus é desnecessário, pois está contido na informação anterior.
Os exemplos dados até agora são de
pleonasmos lexicais. Pode haver também repetições de vocábulos que não
pertencem ao léxico; são os pleonasmos gramaticais: “Maria Fernanda Cândido está grávida do seu segundo filho ”; “A traição só ocorre exclusivamente
em virtude da nossa vontade, e não dos aspectos da natureza humana”. Ambiguidade à parte, não há
necessidade de pronome possessivo para indicar a gravidez da própria atriz. Da
mesma forma, é supérfluo repetir o advérbio “só” por meio de “exclusivamente”;
ambos significam a mesma coisa.
Um conhecido pleonasmo gramatical é o objeto
direto pleonástico: “A vida, o vento a
levou”. O pronome oblíquo “a” repete o substantivo “vida”. Trata-se de
pleonasmo porque o pronome, pela forma como se apresenta, pode exercer função sintática
idêntica à do termo antecipado (no caso, a de objeto direto). Se o pronome viesse
antecedido por um conectivo não poderia exercer tal função, o que determinaria
uma ruptura na cadeia sintática (por exemplo: “A vida, não me importo com ela”). A esse tipo de quebra dá-se
o nome de anacoluto.
Merecem
atenção os pleonasmos gramaticais que envolvem pronomes e advérbios relativos,
em construções do tipo:
- “Vou dizer o nome das moças que meu amigo as viu no cinema.”
- “Algumas
pessoas poderão passar longos períodos de tempo sem encontrar uma pessoa com
quem valha a pena se relacionar com
ela.”
- “Sua
mente habita um
mundo imaginário ,
onde lá coexistem ele e o mundo .”
Os
termos em negrito repetem os conteúdos expressos, respectivamente, no pronome “que”,
no conjunto “com quem” (com a qual) e no advérbio relativo “onde”. Construções
como essas devem ser a todo custo evitadas. Além de não terem valor
estilístico, revelam deficiência na estruturação sintática.
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