O
tema da redação era o rolezinho. Depois de uma introdução correta, na qual
explicou em que consistiam esses encontros, o aluno escreveu no primeiro
parágrafo do desenvolvimento:
“É
natural que esses garotos busquem o espaço privado dos shoppings, pois além de
ser um local valorizado por nossa sociedade centrada no consumo, as cidades brasileiras sofrem com a
falta de infraestrutura urbana.”
O
período apresenta falhas de concordância (os shoppings são locais) e de pontuação (o atributo “centrada no consumo” tem
caráter explicativo, e não restritivo; deveria, por isso, estar antecedido de
vírgula). O que ele tem de mais grave, contudo, é uma quebra de unidade ligada
ao abandono do tópico sentencial.
Esse
tópico é o tema ao qual as informações de uma sentença se referem. No fragmento
do aluno ele está representado pelos “shoppings”, ou melhor, pela preferência que
os rolezeiros têm por esses locais para realizar seus encontros. Ao tentar explicar
isso o aluno pospõe à conjunção explicativa a locução “além de”, dando a
entender que vai apresentar duas justificativas.
A primeira é a de que os shoppings são
locais valorizados pela sociedade. E a segunda?... É aí que ocorre a quebra: em
vez de continuar se referindo ao tópico, o estudante apresenta um novo sujeito
(as cidades brasileiras). Isso quebra a expectativa do leitor, que esperava
alguma coisa do tipo: “...pois além de serem locais valorizados por nossa
sociedade, centrada no consumo, os
shoppings têm uma infraestrutura que as sofridas cidades brasileiras não
têm”.
Exemplo
parecido ocorre nesta outra passagem: “Com a certeza da impunidade, em vez de
seguirmos as normas como foram propostas, a
cultura do famoso jeitinho vem se difundindo e tornou-se louvável.”
A ideia do aluno é a de que a certeza
da impunidade estimula entre nós a prática do “jeitinho”. Se temêssemos as
punições, trataríamos de seguir as normas. Esperava-se que na última oração ele
continuasse falando de nós, brasileiros. Em vez disso, introduz como sujeito “a
cultura do famoso jeitinho.”
O texto teria mais clareza se o sujeito
fosse mantido: “Com a certeza da impunidade, em vez de seguirmos as normas, vimos difundido a cultura do famoso
jeitinho, que se tornou louvável.”
No trecho seguinte, a ruptura ocorre
entre dois períodos:
“A
ONG Nova Vida trata a espiritualidade dos viciados com muita atenção, o
que, segundo os jovens, os auxilia a enfrentar os desafios após a saída do
centro. Além disso, são oferecidas
aos internos aulas a fim de que eles
estejam preparados para o mercado de trabalho.”
O tópico
é “a Ong Nova Vida”, elogiada pela forma como trata os viciados. Era natural
que no segundo período se continuasse falando dela. Em vez disso, aparece como
sujeito “aulas”. Como se não bastasse, o aluno optou pela voz passiva, o que
também concorreu para romper a unidade.
Na
refeitura, a manutenção do tópico implica o restabelecimento da voz ativa:
“A ONG
Nova Vida trata a espiritualidade dos viciados com muita atenção, o que,
segundo os jovens, os auxilia a enfrentar os desafios após a saída do centro.
Além disso, oferece aulas aos
internos a fim de que eles estejam preparados para o mercado de trabalho.”
A
dica, então, é escrever de olho nos tópicos das sentenças. Quem ganha com isso
é o leitor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário