Definir é explicar o significado de um termo. Na perspectiva
textual, pode ser um meio de introduzir o tema. A definição serve para suprir
uma provisória falta de ideias. Não sabe como começar a redação? Comece
definindo.
Numa redação sobre o relacionamento dos casais
no mundo moderno, um aluno escreveu: “O ciúme
é um conjunto
de reações desencadeadas pela ameaça à estabilidade ou
à qualidade de um
relacionamento”.
Por esse ponto de vista, o que provoca o ciúme
é a “ameaça à estabilidade
ou à qualidade
do relacionamento”. Além de restrita, a
definição é falha no sentido de que descreve não o sentimento, mas o efeito que ele
provoca. Ameaça à estabilidade
ou à qualidade
de um relacionamento é mais produto do
que causa do ciúme , que deriva de outras complexas razões .
O risco de definir é grande quando se
conceituam termos científicos ou filosóficos. É preciso conhecer bem o que o
termo significa para não cometer imprecisões como esta: “A filosofia existencialista
defende que o homem é produto do meio em que está inserido.”
O aluno mistura as bolas, pois o
existencialismo nada tem a ver com o determinismo. A ideia de que o homem é condicionado
por fatores como herança, meio e momento se opõe radicalmente à visão de mundo
existencialista. Para ela o ser humano é fruto da sua liberdade; faz seu destino
a partir de escolhas livres, que se fundamentam na consciência. Nada menos
determinista do que isso.
Outro exemplo de imprecisão se encontra
nesta passagem de um texto sobre a relação entre autoestima e sucesso
pessoal:
“A autoestima é a análise
subjetiva de uma pessoa
sobre si
mesma. Muitas vezes ela
acaba sendo erroneamente relacionada ao sucesso
pessoal . No entanto ,
podemos verificar que
a autoestima depende de três fatores : do reconhecimento
dado às atitudes, do sentimento de ser amado e principalmente
do amor- próprio .”
Não dá para esperar muito de um texto quando
o autor não sabe o que um dos componentes do tema significa. Desde quando a
autoestima é a “análise subjetiva de uma pessoa sobre si mesma”? Longe de se
constituir numa análise, ela é uma medida de afeição; traduz o grau de apreço
que cada um tem por si. Segundo Freud, “mede o tamanho do ego”.
Ás vezes a definição está correta
quanto ao sentido, mas tropeça no aspecto formal. É o que ocorre neste início
de redação sobre desenvolvimento sustentável: “Sustentabilidade é quando o desenvolvimento
econômico preserva os recursos naturais”.
Um
dos requisitos para definir corretamente é que o termo definido e o que se
afirma sobre ele sejam da mesma classe. Sustentabilidade é um substantivo; logo,
não pode equivaler a uma oração temporal. Só nas chamadas definições conotativas,
próprias da linguagem poética, pode-se dizer que “alguma coisa é quando...”. O aluno teria produzido uma
formulação razoável (embora ainda incompleta) se tivesse escrito, por exemplo,
que “sustentabilidade é um modelo de desenvolvimento econômico que
preserva os recursos naturais”.
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