“Quem muito fala muito erra” – diz o ditado. E quem muito escreve, além de também correr o risco de errar, tende a se perder no excesso de palavras. O exagero dessa tendência constitui a verborragia, ou seja, o ato de escrever demais e expressar um mínimo de ideias.
O oposto da verborragia é a concisão, que
se define como a economia de palavras. O poeta Jose Paulo Paes destaca essa
qualidade em “Poética”: “
Um dos maiores desafios para quem
escreve é eliminar o entulho verbal. Às vezes o autor tem que escrever duas ou
mais versões do texto, sempre cortando, para chegar à simplicidade e à clareza
que garantem a comunicação.
Deparo-me com alguns desses entulhos em
redações de alunos e vou tratar de dois deles aqui. O primeiro é a duplicação
de palavras. Parece que usar apenas um verbo, ou um substantivo, não satisfaz o
redator. É preciso emparelhá-lo com outro, embora nem sempre o resultado seja
bom.
Por exemplo: “Necessitamos de medidas
para ‘preservar’ e ‘cuidar’ do
ecossistema”, “O trabalho ‘estimula’ e ‘eleva’ o amor-próprio”, “Nosso sistema
carcerário ‘limita’ e ‘inibe’ a reintegração do preso à sociedade”, “Os pais
precisam ‘orientar’ e ‘dirigir’ os filhos”, “É preciso manter a ‘atenção’ e o ‘foco’
nas metas”, “O professor deve estimular a ‘solidariedade’ e a ‘união’ do
grupo”.
O propósito do aluno é dar ênfase,
mas o que ele consegue é o oposto. Um dos termos, por nada acrescentar ao outro
ou estar nele contido, acaba enfraquecendo-o. Na correção deve-se cortar o que
tem menor peso semântico. Basta dizer, por exemplo, “Necessitamos ‘preservar’ o
ecossistema”. É impossível preservar sem cuidar (que por sinal é um verbo
transitivo indireto, de modo que o aluno também cometeu uma falha ao atribuir o
mesmo objeto a verbos de regências diferentes). O corte de um dos termos é
recomendável em todos os exemplos do parágrafo anterior. Se o leitor tem
dúvida, faça o teste.
O segundo tipo de entulho está
representado pelos os lugares-comuns.
A farta presença deles nas redações preocupa, pois indica padronização do
raciocínio e falta de visão crítica. O lugar-comum, como diz Alcir Pécora, é “na verdade, um lugar de
ninguém, uma cidade fantasma”. Dá aos textos um aspecto indiferenciado e os
torna previsíveis, sugerindo que foram escritos por um só autor.
Um dos mais lugares-comuns frequentes
é a tal “
Um bom exercício para aferir o valor da
concisão é reescrever provérbios. Costumo levar aos alunos essa prática, que
tem de quebra o mérito de fazê-los consultar o dicionário. Leia a reescrita das
sentenças que seguem e compare-as com a sua versão proverbial (entre
parênteses). A formulação sintética realça a verdade que existe nelas e aumenta
o impacto sobre o leitor:
2) O Todo-Poderoso presta
3)
4)
5)
Graciliano Ramos, que é um mestre da tesoura, costumava lembrar que a palavra deve “dizer”, e não servir de preenchimento para compensar o vazio das ideias. Tem razão o autor de “Vidas Secas”. Ser conciso, exato, além de transmitir o essencial demonstra respeito pelo leitor, que não vai perder tempo lendo o que nada lhe acrescenta.
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