Um dos inimigos da boa redação é o
excesso de palavras. Escrever demais tira o foco do que se quer comunicar e
acaba irritando o leitor. Deve-se sempre enxugar o texto, pois os excessos
acabam impedindo que transpareça o essencial.
Graciliano Ramos trata metaforicamente o
processo de enxugamento numa das crônicas de “Linhas tortas”:
"Deve-se escrever da mesma maneira
como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma
primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente,
voltam a torcer. Colocam o anil,
ensaboam e torcem uma, duas vezes.
“Depois enxáguam, dão mais uma molhada,
agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só
gota.
“Somente depois de feito tudo isso é que
elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se
mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para
enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."
O autor de “São Bernardo” compara o ato
de escrever ao ofício das lavadeiras de Alagoas, que dividem seu trabalho entre
molhar e torcer. Elas devem secar muito a roupa a fim de que o tecido, livre da
sujeira e da água que o ensopa, revele a natureza da textura e a nitidez das cores.
O mesmo ocorre com os escritos, que no início vêm cheios de impurezas e só se
aproximam da forma ideal à medida que são submetidos a “secagens” sucessivas.
A
vantagem dos cortes evidencia-se em todo tipo de texto. Escrever demais tanto
prejudica o estilo numa obra de ficção, quanto compromete o rigor das
informações e do raciocínio numa redação escolar. É preciso despertar os alunos
para isso, levando-os a perceber o que precisa ser cortado.
Na amostragem abaixo aparecem alguns
excessos encontrados em redações. Eles estão em negrito e devem ser retirados em
prol da simplicidade e da clareza:
1 - A educação do Brasil vem passando
por mudanças ao longo do tempo.
2 -
O mercado do consumo nos oferece
hoje uma grande variedade de produtos disponíveis
à compra.
3 - Esse processo de construção da
educação deve ser feito minuciosamente e
com muito cuidado, pois cada etapa deve estar totalmente garantida.
4 - Alguns concursos podem interpretar
que o excesso de timidez de um candidato é
uma característica que aponta uma maior dificuldade na tomada de decisões.
5 - A boa convivência entre os seres
humanos é algo difícil de ser alcançado e exige das pessoas que a procuram
paciência e esforço para conseguir.
6
- O professor Ulysses continua sendo autoritário
com seus
alunos das escolas em que ensina ,
mas por outro lado
é um grande
amigo fora
do trabalho .
7 – A relação
entre o povo e os representantes sociais possibilita uma maior visibilidade
na interface
positiva ou
negativa dos acontecimentos
sociais na gestão pública dos serviços
do “Estado ”.
A redundância, como se vê, justifica a maior
parte dos cortes: se algo “vem passando” por mudanças, só pode ser “ao longo do
tempo” (o aspecto durativo da locução com gerúndio dispensa o adjunto
adverbial); o mercado não oferece produtos que não estejam disponíveis para
compra; o ato de fazer algo “minuciosamente” já pressupõe cuidado; e assim por
diante.
Nos exemplos 4 e 7 os excessos vêm por
conta de uma designação desnecessária, que sobrecarrega a informação (é uma característica que); e de
um acréscimo no qual a obscuridade parece um disfarce para a falta de informação.
Ou será que o aluno sabia mesmo o que significa “interface positiva ou negativa
dos acontecimentos sociais”?
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