Argumentar é apresentar evidências para
sustentar uma tese. Esse procedimento remonta à retórica clássica, que
codificou os principais recursos capazes de promover a adesão ao ponto de vista
do orador. Aprendemos dos gregos que tais recursos consistem basicamente de “provas” e “razões”. À língua cabia servir de suporte ao pensamento e conferir
beleza à expressão por meio das figuras (flores retóricas), que constituíam uma
espécie de acréscimo.
Essa maneira de avaliar o papel da linguagem no
texto argumentativo mudou. Hoje não se considera o material linguístico como
algo que “se acrescenta” ao discurso, e sim como um dos componentes
fundamentais da argumentação. O processo de argumentar “depende de nossas
escolhas linguísticas para obter sua eficácia” (Ana Lúcia Tinoco Cabral, em “A
força das palavras: dizer e argumentar” – Ed. Contexto).
Uma pequena ilustração disso está na historinha
que circulou há algum tempo na internet envolvendo um cego e um publicitário. O
cego pedia esmola numa manhã ensolarada de Paris; junto dele havia um cartaz
com os dizeres: “Por favor, ajude-me, sou cego.”
Ninguém pingava uma moeda em seu pires. Vendo
isso, um publicitário que passava alterou os dizeres e foi embora. Quando
voltou, horas mais tarde, percebeu que o pires estava cheio de dinheiro. O cego
o reconheceu e perguntou o que ele havia escrito. “Nada diferente do antigo
anúncio”, disse-lhe o publicitário, “mas com outras palavras.” No novo cartaz,
aparecia: “Hoje é Primavera
em Paris, mas eu
não posso vê-la.”
O
que mudou? Na versão do publicitário, a condição do cego não é explicitada, mas
depreendida por metalepse (efeito pela causa) da afirmação “não posso ver” (bem
mais apelativa). Essa afirmação constitui um doloroso contraste com o que está
expresso antes: a beleza da primavera parisiense, que os transeuntes tinham o
privilégio de contemplar. As alterações aumentaram a eficácia do texto, que
enfim conseguiu despertar a solidariedade das pessoas.
Como se vê, o bom argumento é o que produz
empatia, identificação. E a melhor maneira de conseguir isso é envolver pela
linguagem o destinatário.
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